Receita para um mundo em caos: aquecimento global + problemas de infra-estrutura em grandes cidades + queda na força de trabalho (em alguns lugares do mundo).
Conversei na semana passada com Geoff Zeiss, diretor de tecnologia geoespacial da Autodesk, sobre o futuro das cidades digitais. E, quem sabe, descobrir se as metrópoles têm salvação (incluindo São Paulo).
O mote inicial da conversa foi entender como Salzburgo, na íustria, se tornou parte de um projeto piloto da Autodesk de Cidades Digitais.
Resumindo a conversa, Zeiss me disse que temos os três grandes problemas citados acima: o tal aquecimento global, que leva empresas e cidades a quererem se tornar cada vez mais neutros na emissão de carbono; de infra-estrutura, com dois exemplos opostos – Estados Unidos e Canadá cada vez mais com prédios antigos com encanamento enferrujado, estradas e viadutos precisando de conservação e manutenção e por aí vai e Brasil (e por que não China?) desbravando um novo mundo que precisa de infra-estrutura básica (estradas, telecomunicações, água e esgoto etc.).
Finalmente, o último problema se remete mais ao velho mundo (Europa, em resumo), com uma queda notável na força de trabalho voltada ao mercado de construção. Mudanças precisam ser feitas, mas como se a infra-estrutura das cidades está velha, falta mão de obra para transformar e deixar o local ecologicamente correto?
A solução, diz Zeiss, está em outras três áreas, a princípio um tanto desconexas:
1) Tecnologia geoespacial, com mapas em todo lugar, sejam eles do Yahoo!, do Google ou da Microsoft. “É o geospacial em todo lugar”, diz Zeiss.
2) Building Information Modeling (BIM) – ou “modelo de informação da construção”. É aqui que a Autodesk entra: “Passamos de uma época em que o AutoCAD bastava para desenhar plantas e o resto era feito na obra. Hoje, com o BIM, dá para gerar automaticamente a demanda de materiais que uma construção vai precisar – de portas e janelas a parafusos – e projetar os subsistemas do local, como ventilação, eletricidade, água e esgoto, para que eles não se encontrem por acaso na obra e causem problemas. É o que precisamos para entregar uma obra em tempo, com o orçamento em dia”, explica.
3) Videogames 3D. Soa estranho, mas com uma simulação 3D claramente inspiradas pelos videogames os arquitetos e engenheiros conseguem simular como vai ficar o resultado final de uma obra. “É para experimentar o prédio antes de construí-lo”, conta Zeiss.
Peraí. Mapa + simulação + 3D é igual a algo como Sim City, não?
‘É como se fosse mesmo um Sim City, só que aplicado a uma cidade real”, explica o executivo (e me faz desejar fazer uma videochamada no celular prestes a acabar a bateria). “Não tenho muitas imagens para te mandar, você deveria estar aqui e veria coisas incríveis” (grrr!).
Unir tudo leva a um modelo digital de cidade onde dá para prever onde bate o sol de manhã, e qual o impacto ambiental um novo edifício vai causar se for construído em um local X ou Y com janelas menores ou maiores, além do trânsito (ops, pegou no calo do paulistano agora).
“Em um modelo de cidade digital, você integra os dados em uma base única e mostra ao cidadão as alternativas de desenvolvimento. São Paulo, por exemplo, poderia criar um modelo para um bairro e ver o impacto de uma nova grande avenida na área, como ficaria se fosse subterrânea, elevada, derrubando casas e fazendo no solo mesmo. Isso ajuda a entender mudanças e, por consequência, reduzir a emissão de carbono”, me diz o diretor.
Pelo que bem entendi, a integração é transparente. Dados de um Google Street View, por exemplo, entram na conta (com dados dos mapas e de uma empresa como a Lidar – que fez o clipe do Radiohead sem câmeras, por exemplo). Tudo em nome do super videogame realístico – dessa vez para valer.
Aí entra Salzburgo como o primeiro piloto da Autodesk, em parceria com a prefeitura e a universidade local. O anúncio oficial foi feito em 8 de julho.
Diz o comunicado oficial, que explica bem a situação: “A meta deste programa piloto para Salzburgo é unir modelos 3D de recursos da superfície e subterrâneos, em uma plataforma aberta que seja compatível com a integração de CAD, BIM, dados geoespaciais, engenharia civil e dados de infra-estrutura sobre uma grande área geográfica. Ao combinar esses dados com visualização realística e ferramentas de análise e simulação, uma Cidade Digital pode criar um meio intuitivo para entender o impacto de planos e propostas de qualquer ponto no tempo e de qualquer ponto de vista”.
Em tempo: instituições paulistanas como a Companhia de Engenharia de Tráfego e a SPtrans já usam algumas ferramentas que permitem isso.
Claro que São Paulo está muito distante de Salzburgo em tamanho, burocracia e interesses públicos e políticos. Mas não custa nada imaginar que, quem sabe, um dia um órgão público – ou ao menos uma construtora de monstrengos que têm trânsito dentro do próprio estacionamento – libere esse tipo de informação de maneira democrática í população.
(o pessoal da Autodesk ficou de me enviar imagens do sistema. Assim que eu receber, atualizo esse post).