A Apple anunciou hoje a migração dos Macs para uma plataforma própria de SoCs, como já ocorre com o iPhone e o iPad. Com isso, a empresa vai deixar de usar tecnologia baseada na velha e boa plataforma x86 com chips Intel e migra para silício desenvolvido em casa, chamado de Apple Silicon e baseado em plataforma ARM. (post atualizado às 20h)
Tim Cook, CEO da Apple, disse que “hoje é um dia histórico” na apresentação de abertura do evento anual de desenvolvedores da Apple (WWDC), realizado online pela primeira vez. É mais um dia histórico, ao meu ver, para a Apple – sem puxa-saquismo.
A transição de Intel para Apple Silicon está programada para levar dois anos e a Apple ainda vai seguir com um calendário de lançamentos de hardware com processadores Intel, porém a primeira máquina 100% com software e hardware Apple será lançada no final de 2020. Bom lembrar que o keynote da Apple de hoje não citou, em nenhum momento, compatibilidade do Mac OS “Apple Silicon” com telas sensíveis ao toque (algo mais que comum no iOS/iPad OS).
Fato é que a Apple vem criando seus próprios chips desde o lançamento do iPhone e do iPad baseados em plataforma ARM. Integração de hardware e software sempre foi o forte da Apple e, com seus próprios chips feitos em casa, espero um desempenho enorme. Os Macs com Apple Silicon vão rodar a versão mais recente do Mac OS X (Big Sur) e a página de desenvolvedores já tem as instruções de como desenvolvedores de software devem fazer para se preparar para a migração.
Vale lembrar que a Apple tem algo em torno de 7,6% do mercado global de PCs (Canalys) ou 6,6% (IDC).
Em comunicado, a Intel diz que “A Apple é um cliente para várias áreas de negócios, e vamos continuar a apoiá-la. O foco da Intel segue em oferecer as experiências mais avançadas em PCs e uma gama ampla de escolhas tecnológicas que redefinem a computação. Acreditamos que os PC movidos a Intel, como aqueles da nossa vindoura plataforma móvel Tiger Lake, vai dar a melhor experiência aos consumidores em todo mundo em áreas que eles mais valorizam, assim como a plataforma mais aberta para desenvolvedores, hoje e no futuro.“
Experiências do passado
Eu já passei por duas migrações de plataforma como consumidor (e jornalista cobrindo) Apple.
A primeira foi a transição do Mac OS 9 para o Mac OS X no início dos anos 2000 e eu lembro da choradeira que foi. Na época eu editava uma (finada) revista sobre editoração eletrônica e design e tudo que eu ouvia eram reclamações de usuário que tinha certeza de que não daria certo a mudança. Foi uma transição turbulenta, principalmente porque o principal software para diagramar revistas mundo afora (QuarkXpress) não tinha uma versão OSX pronta na época do lançamento (e demorou para ter). Foi ótimo para a Adobe crescer com o InDesign e ganhar mercado.
A segunda foi dos chips PowerPC para Intel x86. Foi bem mais tranquila, na minha lembrança, com (óbvios) problemas de compatibilidade de software, mas era algo planejado a longo prazo e a entrega de desempenho maior compensou a mudança. Vale lembrar que a Apple nunca colou nos seus computadores o clássico selo “Intel Inside” presente em 10 a cada 10 PCs com Windows.
A parceria da Intel com a Apple desde 2005 rendeu alguns frutos interessantes: um deles se chama MacBook Air, que apresentou ao mundo o conceito de “ultrabook” usado anos depois pela própria Intel e fabricantes de notebooks. Nada me tira da cabeça que a Apple tinha exclusividade no projetopor algum tempo e depois a Intel levou aos demais OEMs esse projeto. Mas como tudo é secreto nesse (sub)mundo do hardware, nunca saberemos.
Eu vejo a migração de x86 para Apple Silicon como a mais tranquila de todas. Os dois grandes parceiros de software da Apple – Microsoft e Adobe – já migraram apps para a nova plataforma e a vinda do mundo ARM para o MacOS vai representar um ganho de desempenho enorme em alguns tipos de aplicações, como edição de vídeo, de fotos e até mesmo games. E a questão de existirem apps universais já para iPad/iPhone vai facilitar a vida do consumidor.
Desenvolvedores podem pagar US$ 500 por um Mac Mini “kit de desenvolvimento” do Universal App Quick Start Program. A máquina, com design de um Mac Mini, vem com um SoC Apple A12Z Bionic (o mesmo dos iPad Pro mais novos), 16 GB de RAM e 512 GB de SSD, além de “diversas portas de I/O”. A conferir no final do ano quando a coisa real chegar ao consumidor final.
Melhor começar a fazer a poupança pro novo Mac já: é mais um sinal de que a era do PC como conhecemos começa a dar sinais de adeus. E viva a era pós-PC.
[…] Samsung Exynos, Mediatek Helio, os A13 Bionic do iPhone 11 para ficar nos smartphones e o vindouro Apple Silicon nos Macs em algum momento deste ano (fora TVs, Blu-Rays e qualquer coisa que precise de um chip de […]
a Apple gosta de quebrar padrões. Tirou o drive de disquete, CD-ROM e portas USB 2 (agora só usbC). Trocaram power PC pra intel e agora… ARM.
Deve gerar um boom de dispositivos ARM, com boa potência e grande autonomias energética, mas não acho que o ambiente PC esteja ameaçado – MAC e Linus são nicho.
O que sobrou pra Intel?
93% do resto do mercado de PCs que não se chamam Apple 🙂
Sim, e parece que a AMD ta aproveitando esse mercado de PCs que não se chamam Apple.
https://www.techradar.com/news/amd-dominates-intel-in-cpu-sales-at-least-according-to-one-retailer
tanto que as ações da Intel na bolsa nem se mexeram com a saída da Apple
Certo.
x86 ainda tem fôlego pra ir longe.
Meu desejo em ver algum Ryzen embarcado em algum MacBook já era. Estou mto curioso pra ver como serão esses novos devices equipados full ARM. Será interessante vermos até onde os ARMs aguentam o tranco e podendo vir fortes para a plataforma PC.
acredito em uma diferença conceitual no ARM que vai fazer bem para a Apple: não é um experimento, como foram os primeiros ARM com Windows (hoje estão melhorzinhos)
Mas ainda looooonge de ser aquela coisa boa. O emulador da própria MS não consegue rodar bem apps X86. Será uma longa caminhada.