A passagem do tempo no mundo da tecnologia deveria, como diz o Nagano, ser contada em anos de cachorro. Em 2016, cobri o AWS Re:Invent em Las Vegas: caminhões datacenter no palco, muitos produtos ligados a inteligência artificial mostrando a cara para o mundo.
Em 2019, o evento cresceu e se mostra mais incremental em relação ao que a AWS oferece. Parece que se passaram décadas: o evento cresceu, o número de participantes aumentou muito, o número de novidades entrou no padrão da indústria de tecnologia: evolução, incrementos, crescimento da base.
O evento começou ontem (02) com uma apresentação sobre infraestrutura por Peter de Santis, VP de Infraestrutura Global da AWS. O foco foi computação de alta performance (HPC) e como ela pode impactar a vida das pessoas. Quando falamos em HPC, pode até dar a impressão de que é algo distante, voltado a grandes corporações, sem uso na vida real. Mas De Santis deu exemplos importantes do que já está sendo feito (e usado pela gente) sem perceber.
“HPC serve para resolver problemas de engenharia e ciência. Carros mais eficientes, novos tratamentos para doenças, previsão avançada do tempo são alguns dos exemplos que temos de coisas muito importantes sendo lidadas pela HPC”.
Como a aerodinâmica de carros da temporada 2021 da Fórmula 1, desenvolvida com análise de dados. Ou ventiladores industriais de uma marca com nome ótimo (Big Ass Fans) que estuda mecânica de fluidos usando HPC para criar ventiladores (e simular novos) de forma muito mais rápida. E até mesmo companhias de healthtech, como a Insitro, que usa HPC no desenvolvimento de novos remédios customizados para cada tipo de paciente.
Hoje (3) o pontapé do dia foi dado por Andy Jassy, CEO da AWS, em seu longo keynote de quase três horas. Banda no palco fazendo introduções de temas, DJs animando a plateia antes da apresentação começar (um deles depois apareceu no palco, era só o CEO do Goldman Sachs).
“Hoje temos 65 mil pessoas aqui no Re:Invent. É a oitava edição da conferência, que vemos mais como um evento de educação e aprendizado para nossos clientes e parceiros”, disse Jesse, que começou com um papo motivacional de como a computação em nuvem está mudando o mundo. “Muitas indústrias estão por aí faz muito tempo. Mas como elas se transformam, mudam o mundo?”, questionou o CEO, que listou suas ideias de como empresas podem se transformar (usando a nuvem, claro).
(a banda toca “Right Now”, do Van Halen)
- A liderança da empresa precisa estar convicta do que está fazendo e alinhada na estratégia
- Definir metas agressivas vindas de cima para baixo
- Treinar quem vai fazer a coisa andar
“O primeiro passo é organizacional, não técnico, para migrar para a nuvem”
(Agora é “Don’t Stop me Now”, do Queen)
“Freddie Mercury sabia o que os criadores querem. Desenvolvedores precisam se mover rápido, o mais veloz possível, criar o que eles imaginam.” Mas é para os devs o evento, e eles estão aqui para aprender (e se certificar) sobre os mais de 175 serviços disponíveis na AWS.
Mas ainda é cedo para a computação em nuvem. Apesar de atrair 65 mil pessoas a Las Vegas (E sabe-se lá quantas outras milhares acompanhando pela web), Jassy citou um número enorme muito interessante sobre o mercado global de tecnologia: dos gastos globais em TI no mundo, apenas 3% são em cloud. Os demais 97% ainda são em tecnologias legadas. E a AWS tem 47,8% desse mercado. “Ainda estamos nos princípio da cloud.”
Desse momento em diante (estamos aqui nos 50 minutos iniciais da apresentação), começa a sequência de anúncios de produtos. A AWS tem um foco grande (ao menos é o que se dá a perceber neste ano) em o que eles chamam de “compute” (que é algo que envolve processamento, computação e itens técnicos associados). E vem mais um processador ARM (Graviton 2, disponível em 2020 e mais rápido que a geração anterior e até mesmo chips x86 para servidores da concorrência).
E em “compute” entram outros produtos. Rodar kubernetes em instâncias sem servidor (parece grego, mas para startups e desenvolvedores faz todo sentido) é um chute na canela a ser sentido pelo Google Cloud (o nome da tecnologia aqui é Amazon Fargate for Amazon EKS).
Entra no palco David Solomon, CEO da Goldman Sachs (o DJ lá do começo): o banco da velha guarda, com 150 anos de idade, está apenas há três anos atuando no mercado de varejo e, mais recentemente, ficou em evidência por ser parceiro da Mastercard e da Apple no cartão Apple Card. “A nuvem nos ajudou a dar escala”, disse Solomon, agora com um discreto terno e dizendo que ter a AWS como parceira ajuda a deixar as coisas mais rápidas – seja para liberar um empréstimo ou um depósito em conta corrente.
(A banda, lá do outro lado, solta “Movin’ Out”, de Billy Joel).
Hora da mudança: “quando você vai mudar para a nuvem, precisa decidir o que vai trazer e modernizar suas coisas”. Com uma citação mais direta aos concorrentes “da velha guarda”, IBM e seus mainframes, Oracle e o banco de dados e até mesmo a Microsoft com Windows arquivados na caixa de “mandar para doação” (observação minha), foi o momento de Jassy louvar seus parceiros de negócios que ajudam os clientes a migrar para a nuvem (como Accenture e Deloitte, por exemplo). ”Esse pessoal está carregando o peso pesado.”
(Nova música, “Too Much”, David Matthews Band)
Dados, dados, dados. A frase “não são os requisitos de dados do seu pai” aparece no telão. É para dizer que começou a era (faz um tempo, na verdade) dos dados gigantescos dentro das empresas (e, em um paralelo, nas nossas vidas). E serviços para lidar com isso: Amazon S3 Access Points, Redshift, AQUA, Ultrawarm (para lidar com dados de logs), bancos de dados (mais alfinetadas na Oracle).
(“500 miles”, The Replacements)
Aprendizado de máquina. Em 2016, era o assunto do momento. Agora é como fazer melhor, mais rápido e mais apurado com machine learning. Em um painel posterior, o dr. Matt Wood, vice-presidente de Inteligência Artificial da AWS, foi questionado sobre viés em inteligência artificial (redes aprendendo o lado ruim da humanidade, em resumo). Ele deu uma resposta que “machine learning é um terreno acidentado que precisa ser desbravado. E para isso é preciso que o motorista do jipe acenda os faróis para guiar no caminho. As tecnologias de machine learning hoje já conseguem ao menos indicar os locais onde a luz está apagada e fazer o desenvolvedor corrigir o que está errado, tentando acabar com o viés”.
E mais produtos: Amazon SageMaker (e seus subprodutos que ajudam a dar essa “luz” e tentar descobrir quais modelos de aprendizado de máquina são os corretos – e a AWS tem ferramentas para isso. Se empresas precisam detectar fraude em transações, o Amazon Fraud Detector ajuda. Se o código precisa ser automatizado, o Amazon CodeGuru dá uma força (mão na roda para devs, por sinal). E se o atendimento ao cliente (ainda que online) está dando problema, Amazon Connect transcreve conversas com o consumidor, identifica silêncios e quando ele está sendo negativo com a marca.
E, num anúncio um tanto curioso pela área de atuação, o Amazon Kendra: uso de machine learning para busca de arquivos em redes corporativas. Indexa e organiza informações vindas de Amazon S3, Google Drive, Microsoft SharePoint, BOX e outras fontes. Usa o aprendizado de máquina para classificar os dados, testar e refinar os resultados e, via nuvem, você pode acessar (ou melhor, os funcionários da sua empresa) as informações pelos aplicativos internos.
(Última música: “Break on Through”, The Doors)
Hora de pensar o futuro. Andy Jassy fala da parceria com a VMWare, com máquinas virtualizadas. E a parte mais interessante da manhã: sobe ao palco Hans Vestberg, CEO da operadora Verizon, para anunciar o AWS Wavelength: com a Verizon nos EUA, a AWS vai levar infraestrutura da nuvem para a borda das redes 5G (a tão esperada “edge computing”, essencial ao mundo 5G e que fornece menor latência para apps mobile e dados rápidos da nuvem para itens conectados, como carros autônomos, por exemplo).
Um teste já está em andamento em Chicago, e a AWS anunciou parcerias também com a Vodafone na Europa, KDDI no Japão e SK Telecom na Coreia do Sul. No Brasil., nem temos previsão de leilão de 5G (já que tem gente falando em jogar para 2021), então…
(A banda segue tocando após o fim do keynote)
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Anúncio mais improvável do AWS não citado na apresentação: AWS DeepComposer, um teclado (!) que você pode usar para aprender machine learning e tocar música ao mesmo tempo.
Disclaimer: Henrique viajou a convite da AWS. Fotos, opiniões e piadinhas infames são todas dele.