Campus Party: algumas impressões
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Campus Party: algumas impressões

13/02/2008

Visitar, passear, interagir pelos corredores e bancadas (muitas delas vazias) da Campus Party mostra que o evento-festa-disneylândia não traz nada de comum. Campus Party é uma festa para o usuário, do usuário e da sua comunidade.


Primeiro: quem está lá é a base da pirâmide geek/nerd, e talvez por isso a mí­dia em geral adore tratá-los como bichinhos curiosos e engraçadinhos. “Olha, tem um case mod, tem sapato com GPS pra segurança de prostitutas, tem realidade virtual, tem até o Exército” – quantas vezes já não se ecoou isto. É a turma dos early adopters, dos fanáticos (em bom sentido) por tecnologia, de um povo que a maioria do mundo lá fora da Bienal – dito “normal” – não entende e prefere navegar no Orkut/MSN em vez de pensar.

Quem vai ao Campus Party entende que o conceito de comunidade (online ou não) é importante. Vide a recepção calorosa dos blogueiros reunidos fora da sala de imprensa (de onde querem distância). Dos blogueiros patrocinados pela Intel que seguem em Segways pelo pavilhão da Bienal, despertando inveja de muitos que querem brincar com o veí­culo elétrico. Do pessoal que faz case mods, que quer discutir astronomia, desenvolvimento, robótica (a impressão que dá é que, quanto mais fundo se segue ao segundo andar da Bienal, mais vazias as bancadas estão) e os demais temas da Campus Party. Talvez o principal conceito da Campus Party seja encontrar pessoas, dar caras a gente que só se conhece por blogs, fóruns, messengers da vida.

Um evento tão grande tem seus problemas também. Comportar 3.000 inscritos, mais ou menos 1.800 acampados, num espaço – sem álcool (tirando poucos malandros que escondem vodca nas garrafinhas de água mineral), sem cigarro – exige um enorme esforço de convivência. E aí­ que eu questiono um pouco a cordialidade do povo da Campus Party. Ficar seis horas na fila para entrar? Ah, vamos nos divertir!. Ficar sem estrutura para tomar banho? Ah, tudo bem!

São pouco mais de 20 chuveiros para 1.800 pessoas dormindo lá – fica a sugestão do patrocí­nio de algum desodorante para o Campus Party de 2009. Quem esteve na área dos chuveiros brinca que são três banhos: um de chuva ao sair do pavilhão e descer escadas, outro banho de chuveiro propriamente dito e mais um de chuva para voltar í  festa. Não precisa fazer baderna, mas se qualquer bobagem escrita e pendurada nos vidros do aquário da imprensa viram notí­cia, por que não juntar uma turma ali para “protestar” contra a falta de estrutura? Pelo menos a comida fornecida aos “campuseiros” vem sendo elogiada.

Mas mais perdidos que a organização do evento em alguns detalhes estão os expositores do térreo. Sim, existem experiências interessantes por lá, mas basicamente são aquelas de projetos fora do escopo das grandes marcas. OK, estamos num mundo capitalista e todos precisamos expor nossas marcas. Mas a grande impressão que dá é que tem stand ali que foi montado por alguma ordem do pessoal de marketing (“olha, é importante, nosso concorrente vai estar lá”) e nem ao menos avisaram para que alguns executivos apareçam para ver a coisa acontecer.

Em tempo: fui embora ontem da Campus Party por volta das 20h30. í€ noite, dizem, a coisa fica mais quente, chega mais gente pra ver, jogar, brincar, se divertir. Para mim, valeu a experiência – mas ainda sou mais a minha cama. Hoje, se der tempo, apareço por lá.

Escrito por
Henrique Martin
2 comentários
  • Henrique,
    estive lá ontem no fim do dia, entre 6 da tarde e 8 da noite. E confesso que fiquei decepcionado. O primeiro motivo você colocou no texto – à medida que vamos chegando ao fim do pavilhão, mais vazias, pra não dizer desertas, estão as bancadas. O segundo é que eu imaginava um povo mais ativo e capaz de interagir, afinal todos ali tem gostos em comum. Mas o que vi foi uma legião de pessoas com seus fones de ouvido, fazendo donwloads, navegando no Orkut e teclando no MSN.
    A sensação que me passou é que de interação da comunidade a Campus Party tem muito pouco – exceção aos blogueiros, gamers e o pessoal de casemod. O restante do povo fica mesmo é no virtual, perdendo uma bela oportunidade de se relacionar.
    Mas de repente isso é idéia de quem é de outra geração… hehehehe

  • Henrique, muito bom o seu post. Esclarecedor e meio desmotivador pra quem trabalhou muito a semana toda…

    Acho que vou ficar sem comprovar esse ano!