Como se fabrica um PC? (resposta: é tudo igual)
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Como se fabrica um PC? (resposta: é tudo igual)

RESUMO

Existe a velha máxima no mundo da tecnologia: uma vez que você visita uma fábrica de computadores, celulares ou componentes, já viu todas as linhas de produção do mundo.

Existe a velha máxima no mundo da tecnologia: uma vez que você visita uma fábrica de computadores, celulares ou componentes, já viu todas as linhas de produção do mundo (TVs é diferente, mas não deixam você andar pela linha de produção).

Semana passada fui até a planta da Megaware em Belo Horizonte (alô, trânsito!) para rever como PCs e notebooks são produzidos – e até deu pra perceber que alguns processos mudaram desde a última vez que vi uma dessas (em 2007, na planta da CCE, em uma era pré-ZTOP).

Em tempo: todas as fotos aqui são oficiais da fabricante – por conta de “sigilo de processos industriais”, não deu para tirar fotos dentro do grande galpão. Motivos? Segredos industriais (e um certo temor de uma fabricante de Curitiba descobri-los). Note que não tem fotos da linha de montagem dos notebooks, apenas desktops e montagem de placas.

zona de testes de PCs e instalação de sistema operacional

Ao entrar na fábrica, sim, dá a entender que o processo da Megaware é igual a todo e qualquer outro fabricante de computadores e notebooks brasileiro: por conta do PPB e das leis de incentivo com redução de impostos, as peças chegam de fornecedores na Ásia e são montadas localmente. O que a fabricante faz é juntar esses pedacinhos e transformá-los em máquinas completas. E todo mundo faz isso.

O processo de produção se divide em duas partes: a montagem de placas-mãe (em um ambiente separado) e a dos computadores propriamente ditos. O departamento de engenharia da Megaware está lá para garantir que os processos são feitos corretamente e homologar os computadores prontos. Não há (novamente, como na maioria dos fabricantes locais de PCs) o desenvolvimento local de hardware ou de design. As opções vêm prontas de fora, com escolha pessoal de design e configurações (Steve Jobs feelings) de Germano Couy, diretor geral e manda-chuva da Megaware.

A montagem de placas-mãe é a mais interessante de ser vista (e com equipamento mais novo). Máquinas robotizadas encaixam em velocidades neuróticas peça por peça (vinda de carretéis cheios de pecinhas) sobre uma placa despida de componentes, que segue pela esteira até a inserção manual de uma ou outra parte maior e mais delicada e a posterior soldagem das peças. Depois, partes maiores (como encaixe de memória, bateria, portas SATA) são encaixados também na mão (pense em uma caixinha cheia de peças de Lego, só que com essas peças) e também soldados.

Além de placas-mãe para notebooks e desktops da casa, a Megaware também monta pentes de memória RAM e prepara a venda desses componentes prontos para outros fabricantes de computadores. Curiosamente, a maior parte dos funcionários ali é do sexo feminino: a justificativa é o maior detalhe no trabalho final.

Montadoras de peças robotizadas

A linha de montagem dos computadores, ao contrário das placas, é mais braçal mesmo. Funcionários seguem o esquema “cada um monta um pedaço” – placa-mãe, memória, disco rígido (tudo separado em kits com 50 unidades de cada), selos, encaixa tudo no gabinete, leva pra testes, instala sistema operacional (média de 8 a 12 minutos para clonar um OS!), embala, testa de novo para controle de lote.

Para notebooks e netbooks, é um processo um pouco mais complexo, já que a máquina sai da linha pronta e embalada. No total, são cinco linhas de produção, que trabalham dois turnos por dia e preparam em média 60 portáteis por hora e de 30 a 35 desktops/hora.

a linha de montagem de placas-mãe

Os processos de teste e avaliação das máquinas me pareceu ser a maior preocupação da Megaware no processo fabril. Como a fábrica produz apenas sob demanda dos clientes (grandes varejistas com pedidos enormes ou comércios locais que precisam de menos máquinas escolhem configurações de um catálogo oficial da empresa), não querem deixar margem para erro e ter um consumidor final irritado.

Nos desktops, por exemplo, a cada lote de 300 computadores, 50 são testados novamente (desembalados e rechecados). Antes de embalar, todos os produtos passam por testes extensivos de “run-in” para checagem de hardware e peças (vai que um USB não funciona, né?) – e tudo sempre acompanhado na rede via código de barras, para não dar erro.

preparando placa-mãe

Também existe uma preocupação em reciclagem e uso de componentes sem chumbo na fabricação dos PC/notebooks na fábrica. Quase todo o papelão é enviado para reciclagem, assim como isopor e o que dá é reaproveitado (como os saquinhos antiestática usados e reutilizados para transporte interno de placas-mãe prontas).

Um processo tipicamente brasileiro, porém, acontece no final de cada linha de produção, com o computador já embalado e selado: a plastificação da caixa, para evitar roubos no estoque dos varejistas. Me lembrou das ofertas nos aeroportos internacionais brasileiros para embrulhar a mala antes de viajar.

A expansão do mercado de PCs no Brasil mostra os clássicos sinais de dores de crescimento na Megaware: a fábrica de BH está quase saturada, sem espaço para crescer e em uma área da cidade com pouco perfil industrial (ao lado passa um trilho de transporte de minério da Vale do Rio Doce que segue até… sei lá onde!). No dia da visita, o ar-condicionado da área de montagem de placas estava desligado porque a companhia elétrica local ia instalar um novo transformador para aumentar a capacidade energética da fábrica. E a planta de Curitiba ainda não produz placas-mãe, por sinal, só computadores.

A fabricante não deu mais detalhes sobre os planos de vender placas-mãe para outros fabricantes. Ressaltaram mais de uma vez que o segundo semestre é a época mais intensa por conta da demanda do final do ano (e por falta de placas-mãe decidiram fabricar as próprias) e que existem planos de começar a produzir notebooks com processador AMD, seguindo a combinação de bom preço x desempenho já adotado por Lenovo, Sony e Semp Toshiba.

Fato é que uma consolidação do mercado brasileiro de PCs está por vir – os gigantes estrangeiros (Dell, HP, Acer, Asus, Lenovo) estão com as garras prontas e já batem de frente em preço com os concorrentes locais, como a Positivo e a própria Megaware. Os próximos anos vão ser bem divertidos de acompanhar.

disclaimer: ZTOP fez o bate-volta em BH a convite da Megaware, mas todas as opiniões aqui são nossas. 

 

Escrito por
Henrique Martin
11 comentários
  • Bacana! Parabéns (e que inveja) pela visita 🙂

    Uma questão que eu queria por as empresas fabricantes/montadoras de computadores é o porque deles usarem uma distro Linux incomum ao invés de alguma distro GNU/Linux popular, mas acho que fica para outro assunto, não? E também já imagino alguns porques. 🙂

    Ah, e se for o que tou pensando, os trilhos que tu passou podem ser a linha Vitória a Minas também. Poderia ter aproveitado e ido dar uma voltinha de trem. 🙂

  • No canto superior direito da última foto… tem um cara tocando sanfona? Será que é pra evitar depressão? :o)

  • como posso identificar um computador que a placa mãe está queimado