Não, esse não é o nome de um oitavo livro na saga do bruxinho mais famoso dos últimos tempos, mas serve bem para ilustrar o que aconteceu no lançamento do último livro da série (Harry Potter and the Deathly Hallows) há alguns dias. A editora inglesa, Bloomsbury, investiu mais de US$ 20 milhões em medidas de segurança para que o conteúdo da obra ficasse a salvo de olhos curiosos até a data oficial de lançamento, na madrugada de 21 de Julho. De nada adiantou: como sempre, a corrente arrebentou no elo mais fraco.
Quatro dias antes do lançamento, uma loja online chamada Deep Discount entregou, “por acidente”, mil e duzentas cópias do livro a clientes que as tinham adquirido na pré-venda. Alguns destes livros foram imediatamente parar no eBay: uma cópia chegou a ser vendida í revista norte-americana Publisher´s Weekly por US$ 250 (o preço oficial é de US$ 18). Mas um deles foi parar na mão de um internauta determinado, que fotografou cada uma das 729 páginas do livro (com uma Canon Rebel 350) e colocou o pacote de imagens í disposição do mundo via BitTorrent.
A qualidade das imagens não era boa: algumas páginas estavam quase ilegíveis, mas foi o suficiente. Em cerca de oito horas surgiu na internet uma transcrição dos primeiros 11 capítulos do livro, em PDF e com formatação adequada, produzida por um grupo identificado como DSB. Em mais algumas horas, o grupo lançou o restante do livro. O resultado foi uma transcrição completa e “bastante precisa”, segundo internautas, da obra, um dia antes do lançamento oficial. Logo em seguida grupos de vários países anunciaram o início dos trabalhos em versões traduzidas. Atualmente são várias as versões em PDF do original em inglês disponíveis na rede, revisadas, corrigidas, com a capa original e outros detalhes.
Não adiantou nada todo o trabalho de segurança da editora. Portadores treinados para transportar os manuscritos, turnos diferenciados na gráfica, GPS nos caminhões e caixas com os livros, segurança nos depósitos. Tudo o que foi necessário foi uma única cópia chegar a um leitor determinado a compartilhar. A partir daí a internet e o espírito comunitário de grupos reunidos em torno de um interesse comum fizeram a mágica e conseguiram produzir, em horas, o que uma empresa treinada e especializada não conseguiria em alguns dias. A série Harry Potter nunca foi lançada em e-book, dizem que porque a autora teme a pirataria. Tudo bem, os piratas supriram o nicho.
É verdade que J.K. Rowling não vai perder muito dinheiro com isso. Afinal, o livro vendeu 11 milhões de cópias em menos de 24 horas, só no Reino Unido. Mas talvez tenha aprendido uma velha lição, ensinada pela primeira vez há muito, muito tempo atrás, em uma galáxia muito distante: “The more you tighten your grip, Tarkin, the more star systems will slip through your fingers.” (Quanto mais você apertar suas mãos, Tarkin, mais sistemas estelares escaparão por entre seus dedos).
Perfeito! Isso é o que se pode chamar na prática de o versadeiro comunismo. Isso é o que me motiva ao mundo do software livre, que apesar de não ser o foco dessa matéria, o conceito é o mesmo. Compartilhar seu conhecimento, aprimorar e redistribuir. Se todos os seres humanos vivessem assim, não terÃamos desigualdade social e nem guerras, porém o capitalismo fala mais alto, infelizmente.
[…] semana passada uma matéria a respeito do lançamento do último livro do Harry Potter que me deixou impressionado com como a […]