Transforme sua câmera Micro Four Thirds numa legítima Toy Camera Digital.
No mês passado, falamos de uma nova linha de lentes para câmeras de terceira geração/DSLR/DSLM com a marca Holga. Para quem não conhece, essa câmera foi criada no início da década de 80 em Hong Kong (pouco antes da abertura econômica) e como tal, seu padrão de qualidade e acabamento era tão precário que suas fotos estavam sujeitas a todo o tipo de “defeitos especiais”, como vazamento de luz, distorções, vinhetagem, desfoques etc.
Seus resultados eram de tão baixa fidelidade — beirando ao surrealismo — que alguns fotógrafos ocidentais começaram a vê-la como uma nova forma de arte (chegando até a ganhar prêmios), ganhando assim um nível de respeito ou notoriedade comparável a da Lomo LC-A, outra câmera “comunista” que deu origem ao chamado movimento lomográfico, cujos usuários de Holga também se consideram parte. De fato, ela até inspirou uma nova classe de lentes/câmeras hoje chamadas genericamente de Toy Camera.
Confesso que sempre tive algum interesse por esse fenômeno, mas nunca curti a ideia de gastar dinheiro numa câmera que tira fotos sabidamente estranhas. Mas ao escrever a nota sobre as lentes Holga, eu notei que a Amazon norte-americana estava vendendo um modelo para Olympus com baioneta micro four-thirds por apenas US$ 23 e o mais incrível: eles postavam para o Brasil cobrando apenas US$ 4,86.
Ok, deal! E em menos de 30 dias chegou esse pacotinho aqui na Zumo-caverna:
Ao ver essa embalagem deu para descobrir uma coisa: que essa lente não foi despachada dos EUA e sim direto da China (ou mais exatamente da Holga Direct, de Hong Kong), o que explica como a Amazon me vendeu um equipamento fotográfico para alguém do Brasil sem cobrar imposto e o baixo custo do frete e o envio. Curiosamente, o pacote também passou batido pela alfândega, mas isso pode ter sido uma exceção e não a regra.
Dentro dela veio a caixa do produto — uma embalagem branca genérica com uma etiqueta de identificação — contendo a lente propriamente dita embrulhada em um saquinho de plástico bolha. Entre os acessórios inclusos vieram tampinhas para proteger as partes da frente e de trás da lente e um pequeno manual do usuário (uma folha dobrada). Nada mal para um para um item de US$ 23.
Como era de se esperar de uma lente Toy, a HLW-OP é feita totalmente de plástico (duh!) o que inclui o seu elemento óptico (tipo meniscus) que o saudoso Grupo Imagem e Teleshop diria que são “feitas de puro cristal acrílico!“. Ela mede aproximadamente 5,7 cm de diâmetro x 3,8 cm de comprimento e pesa apenas 38 gramas de peso.
Segundo informações impressas na mesma, trata-se de uma lente de 25 mm, o que equivale a uma lente normal (~50 mm) nos sistemas de filme 35 mm. Sua abertura focal é fixa em f/8, o que pode ser um problema para as DSLRs devido a sua baixa luminosidade — o que dificulta a visualização nos visores reflex em certas situações. Curiosamente, isso não aflige os usuários de DSLM equipados com visores eletrônicos.
Note que esta lente diz que foi feita para as câmeras Olympus Pen Digital, existindo um modelo específico para as câmeras Lumix G da Panasonic (modelo HLW-PLG). Como ambos os modelos adotam a mesma baioneta padrão Micro Four-Thirds e não possuem contatos eletrônicos para trocar informações com a câmera, meu palpite é que isso é apenas alguma estratégia de marketing do que uma limitação técnica propriamente dita.
Interessante notar que a saída de luz dessa lente para o sensor de imagem passa por um furo central (abertura f/8?) cercado por oito menores…
… cuja função parece ser de melhorar ou de pelo menos reduzir o a queda de iluminação das bordas sem interferir na sua abertura f/8, minimizando assim o notório efeito de vinhetagem (borda escura ao redor da foto)muito comum de aparecer nas câmeras Holga:
O sistema de foco utiliza um sistema de rosca regulada manualmente por um anel de foco de movimento livre que exige um pouco de força para movimentá-lo. Acredito que isso seja porque a lente ainda é nova e pode ficar mais “leve” com o desgaste/uso.
Curiosamente, a HLW-OP não possui escala de distâncias (que deve cobrir algo como 1,0 m até o infinito) e sim um simples sistema de símbolos semelhante ao usado nas antigas Olympus Trip 35. Ela serve mais como uma referência de distância de acordo com o tipo de foto que o fotógrafo deseja fazer (retrato de uma pessoa, pequenos grupos, grandes grupos e paisagens).
Entretanto, o manual do usuário informa que o ícone de “montanha” (= paisagens?) significa algo um pouco antes do infinito e, de fato, o ajuste de foco realmente ultrapassa um pouco esse acidente geográfico.
Comprovamos isso durante nossos testes, onde na imagem abaixo (detalhe dessa foto em 100%) o ajuste “montanha” mostra o prédio ao fundo levemente desfocado…
… se comparado com a mesma cena focada no “infinito”:
Resumo: use essa escala mais como referência rápida, confiando mais na sua experiência acumulada com a mesma e não só nas figurinhas. E se você quiser fotos realmente focadas — o que não sei se é o caso de uma lente Toy — melhor fazer o ajuste fino usando os recursos de foco manual da sua câmera.
Sob Testes:
Para testar essa lente, usei minha Olympus OM-D E-M5. O engate ocorreu de acordo com o esperado (sem forçar nada), apesar de notamos uma folga mínima no encaixe ao mexermos na lente, mas aparentemente nada que interfira nas imagens (como um vazamento de luz).
Nos testes realizados, notamos que no modo automático da câmera as imagens tem mesmo aquele efeito de “toy câmera” ou seja, uma espécie de efeito túnel com a parte central mais em foco cercada por uma borda mais escura/desfocada. Como era de se esperar, as cores ficam meio pálidas e sem graça, o que também é comum nesse tipo de foto.
Uma maneira de contornar esse problema das cores é reduzindo a exposição em -1 ou -1,5 pontos na exposição obtendo assim cores levemente mais saturadas:
Entretanto, a maneira mais interessante de usar essa lente é mesmo sair do lugar comum e explorar todo o seu potencial criativo. No caso da OM-D a maneira mais simples é brincar com seus filtros criativos aplicando diferentes efeitos, como foto em preto-e-branco:
Foto em sépia:
Filtro Pop Art:
Filtro Dramatic Tone:
Filtro Cross Processing:
Mas é claro que mesmo no modo normal e sabendo tirar proveito dos “defeitos especiais” dessa lente é possível obter resultados bem interessantes:
Nossas conclusões:
Como era de se esperar de um produto com a marca Holga, não devemos desejar muito de uma lente de plástico com cara de brinquedo, já que é exatamente isso que ela é: um gadget simples e barato que muitos compram de farra para brincar com as imagens e não levar seus resultados da muito a sério.
Mas como podemos ver nos exemplos acima, a HLW-OP até que oferece uma boa relação entre custo x benefício, mas isso não significa que ela substituiria uma lente de grife para uso geral, e sim que você tem mais chances de não se arrepender por ter gasto US$ 23 + US$ 4,86 de postagem para fazer sua caríssima DSLR/M tirar fotos tão retrô quanto uma câmera sino-comunista dos anos 80.
Mais legal que isso, só o relóginho Mao Tse-Tung.