Não sei quanto a vocês, leitores, mas eu já perdi a conta de quantos “iPhone Killers” foram apresentados í imprensa desde o anúncio oficial do produto, em 9 de Janeiro deste ano. A LG tem o Prada, a Meizu (uma empresa chinesa) já anunciou um clone chamado M8, a Asus tem o Aura, a Nokia um conceito chamado “Aeon“, a Samsung mostrou hoje o F700 e muito provavelmente a (insira sua fabricante favorita aqui) também tem algo na manga. Considerando que o iPhone sequer nasceu (o lançamento oficial é pra junho), eu considero isso como um infanticídio.
Em praticamente todos os casos (com a exceção do Prada, que já está í solta), há um padrão comum: a comparação é entre produtos que ainda não existem. Números são muito bonitinhos no papel, mas até que eu tenha o produto na mão eles (e as fotos) não servem pra nada além de partidas de Super Trunfo. É muito fácil tirar um dado qualquer da cartola e dizer que “o meu é maior que o seu”.
Mas ninguém leva em consideração dois fatores cruciais nessa questão. O primeiro é o poder de marketing da Apple, a aura “cool” que a empresa projeta e sua reputação de produtos de qualidade. Dizer “eu tenho um Meizu” não é cool. Dizer “eu tenho um iPhone” é. E na sociedade atual as pessoas querem, desesperadamente, ser “cool”.
Outro fator é o “feel” do produto, ou a sensação que ele provoca ao ser usado. Isso é o que diferencia um grande aparelho de um mero clone. Não adianta ter um processador 2x mais rápido se a interface demora segundos para reagir ao toque em um botão. Não adianta ter câmera de 300 Megapixels se a lente é uma porcaria e as fotos só saem boas com tripé e muita luz do sol. Não adianta ter Wi-Fi com banda ultra-larga se a configuração é um pé no saco e tem que ser refeita no braço a cada vez que você muda de hotspot. Não adianta ter tudo isso num corpo de plástico preto barato que range quando você abre um flip, ou um corpo de metal que esquenta demais no sol e queima sua mão. Como você interage com todos os Megahertz, Megabytes e Megapixels é mais importante do que a quantidade deles.
A maior prova de que a tecnologia sozinha não salva ou condena um produto é o iPod. Desde que foi lançado, em 2001, dezenas de concorrentes com mais recursos e por vezes menor preço apareceram no mercado. Nenhum deles matou o iPod, na maioria dos casos por ignorar um ou ambos dos fatores acima. A Sandisk fabrica MP3 players, os Sansa, muito bons. Quantos Sansa você vê andando pela rua? E quantos iPods? (e um Sansa é tão fácil de achar quanto um iPod, e mais barato, no Stand Center e outros centros de “comércio eletrônico popular” em SP).
Antes de “matar” o iPhone vamos esperar ele nascer. Com um em mãos, poderemos compará-lo com seus “assassinos” no dia-a-dia e aí sim determinar, com base em mérito e não em hype, quem é o verdadeiro vencedor.
Rigues, já disse pra uma amiga minha e repito: o iPhone é a estratégia da Apple de vender telefones “cool” para os pobres americanos que vivem em um mercado que praticamente não tem aparelhos GSM. Qualquer Nokia ou Motorola um pouquinho mais avançado já ultrapassa o pobre iPhone.
Acho que, no fundo, deve haver uma explicação psicológica (ou sociológica) para entender porque é “cool” ter um iPhone da Apple. Já fui muito fã de me manter “atualizado” com as novas tecnologias e investia até 50% do que faturava com isso. Hoje, fico mais esperando. Os brinquedos são legais, mas, não sei se vale a pena.
Pelo menos inicialmente, o iPhone não veio competir em listas de recursos com os aparelhos já estabelecidos, mas trazer uma nova abordagem para os velhos problemas. São os outros telefones que terão necessariamente de mudar para lhe fazer frente. Sabendo disso, a indústria se precipita a nomear um novo “iPhone killer” toda semana.
O diferencial do iPhone não são os recursos em particular – estão incompletos nesta primeira geração – mas a maneira de usar. É esse fator o que muitos comentaristas não entendem nem que se lhes seja esfregado na cara com força. Feature por feature, cabine de avião tem muito mais instrumentos que painel de carro. O que importa é se eles são realmente úteis para o consumidor.
O esforço de criar um aparelho que faz as coisas de uma maneira mais eficaz é o mesmo que impulsionou o Mac e o iPod, se for pensar bem, e seu sucesso e influência crescentes provam que ao menos parte do público e da indústria se conscientizaram de que esse é um fator de máxima importância.