De passagem pelo Brasil, Satya Nadella, CEO da Microsoft, falou hoje sobre como criar a intensidade na tecnologia.
Nadella fez o discurso de abertura do Microsoft AI+Tour, um evento – como o nome diz – sobre Inteligência Artificial. Nos exatos 30 minutos que esteve no palco, falou bastante sobre Brasil.
“Temos um sentimento real de otimismo e antecipação sobre o que a tecnologia pode significar para o Brasil e o crescimento do país, impactando a sociedade”, afirmou.
“Existe uma oportunidade enorme agora que a tecnologia passa a fazer parte do mundo real, em toda a economia e sociedade, todo lugar, casa, fábrica, fazenda, carro, geladeira passam a ser movidos por software e conectados” (falando sobre uma internet das coisas que, bem, não chegou direito por aqui ainda).
“Buscamos uma intensidade na tecnologia. Queremos que empresas e poder público sejam mais eficientes, e que não cresçam dependentes da Microsoft, mas que ajudem a todos a criar sua independência com a Microsoft”, disse.
Mas isso, claro, faz parte da estratégia de IA e Computação em Cloud/Edge da Microsoft, envolvendo Azure e produtos relacionados. Nadella citou os grandes avanços de IA da Microsoft nos últimos anos – reconhecimento de objetos, de fala, compreensão de leitura de máquina e tradução de máquina, todos com paridade com um humano (ou o conhecimento / habilidades de um humanóide).
O CEO da Microsoft fez uma previsão interessante: toda empresa ou marca vai ter um “agente inteligente, seja para falar ou se comunicar por texto com seus clientes”.
E citou alguns dos clientes brasileiros da Microsoft que usam tecnologias de nuvem/AI, como Rock In Rio (hospedagem do site em Azure), Coopercitrus (com drones e reconhecimento de imagens para ajudar na colheita), Hospital 9 de Julho (machine learning com imagens para evitar queda de pacientes), Hospitais Lucy Montoro e AACD (AI e análise de dados para ajudar com fisioterapia) e a rede de padarias Real, com 4 lojas apenas e usa Office 365 (baseado em nuvem, claro) para gerenciar estoques.
Privacidade
Seguindo para a parte final do keynote, Nadella acredita que o Brasil e a “intensidade tecnológica” são uma oportunidade para o país e para as empresas locais. Mas reservou uma parte do discurso para comentar algo que se tem tornado padrão: a Microsoft como defensora da privacidade na internet e, principalmente, em uso de nuvem e AI.
“As empresas precisam entender as consequências dos seus negócios. Confiança não é algo que você pode afirmar que tem (ou é), você precisa se garantir confiável todos os dias. AI precisa ser segura e privada. O Brasil está na frente ao tratar da privacidade como um direito humano, e nossa nuvem segue as leis locais”, disse Nadella, citando o GDPR europeu e a Lei de Proteção de Dados brasileira.
“Inteligência Artificial precisa ser responsável, garantir justiça, transparência e inclusividade e, ao mesmo tempo, seguir princípios seguros e éticos”, concluiu.
Durante o evento, Nadella também anunciou ainda uma parceria da Microsoft com o SESI e SENAI para educação em Inteligência Artificial, com quatro cursos gratuitos no site Mundo SENAI.
Números enormes: Vivo e AI
Christian Gebara, CEO da Vivo, compartilhou alguns dados sobre a Aura, assistente baseada em AI da operadora que usa infraestrutura Microsoft Azure para falar com os clientes.
Desde o lançamento na metade de 2018, já foram feitos 20 milhões de atendimentos pela plataforma, considerada um “Call Center Cognitivo” da operadora.
Além disso, a Vivo tem um Centro de Treinamento de Bots com 15 pessoas (envolvendo desde ex-atendentes de call center a especialistas em linguística) para avaliar a atuação da Aura em todos os canais de atendimento (voz, site, app): após 120 mil análises, a precisão da Aura passou de 75% em outubro/18 para 81% em novembro e chegou a 84% em dezembro.
Da próxima vez que você tentar falar com um humano na Vivo para resolver algo (ou usar Facebook Messenger, WhatsApp ou Google Assistente), vai passar primeiro pela Aura, que agora será ampliada para 100% dos DDDs do Brasil.
Uma volta ao passado
Eventos da Microsoft (e já vi muitos deles na vida) – principalmente com o CEO – têm uma energia diferente. Uma tensão no ar, um sentimento de que a mínima mudança nos planos pode desencadear uma tragédia sem limites.
É curioso comentar isso mesmo em tempos de Satya Nadella, um dos caras mais interessantes no mundo da tecnologia hoje. Na primeira viagem de imprensa que fiz na vida, no distante ano de 2003, visitei o quartel-general da Microsoft. Eu era repórter da The Industry Standard, revista que cobria o mercado de internet no Brasil (em pleno auge da bolha da web), mas viajei como representante do jornal Computerworld, da mesma editora.
Lembro que um dos itens da agenda era um papo de meia hora com Steve Ballmer, então CEO da empresa. A apresentação anterior acabou quase uma hora antes, e ficamos lá esperando Ballmer (era um grupo grande de Brasil e América Latina). Mas tinha essa mesma energia no ar – não saia do seu lugar, não vá ao banheiro, espere aqui, Ballmer está chegando.
Ficamos lá, quietinhos, esperando o cara. Como uma tempestade (e assessores gritando “ele está chegando”), Ballmer apareceu. Foi simpático, respondeu ao que dava pra responder, fez piada, acabou o tempo cronometrado, foi embora. Comentaram comigo depois, mas juro que não percebi: o sapato dele estava furado. Não vi mesmo.
Mas é isso, essa ~ tensão ~ em torno do CEO (ainda que de forma menor porque Nadella não me parece ser uma pessoa que grite ou use sapatos furados) só vi na Microsoft. E hoje ela estava lá, de novo.
Crédito da imagem de abertura deste post: Flavio Florido/Microsoft