Para continuar o debate entre padrões neste Zumo, enviei ontem duas perguntas para Cezar Taurion, gerente de novas tecnologias aplicadas da IBM Brasil.
Taurion acabou de me enviar um pequeno relato, que reproduzo abaixo:
“Oi Henrique, não posso comentar a notícia das mudanças desenhadas pela Microsoft pelo simples fato que não conheço maiores detalhes e é uma decisão que apenas eles têm condições de detalhar. Mas é bem-vinda, pois finalmente atende í s fortes demandas da sociedade, da comunidade open source e de órgãos reguladores como o da União Européia.
Mas gostaria de debater alguns assuntos relacionados ao tema. Primeiro deixar claro que existem diferenças entre interoperabilidade (capacidade de diferentes softwares trocarem informações via um conjunto padrão de interfaces e formatos abertos) e intraoperabilidade, quando um fornecedor apenas cria condições de tornar mais fácil a conexão com seus próprios produtos.
Em uma situação de intraoperabilidade, o fornecedor de um produto dominante cria protocolos e formatos que o favorecem, tanto que os mantém sob seu domínio, controlando sua evolução e decidindo quais funcionalidades serão mais ou menos abertas. Na interoperabilidade, os padrões são abertos e não controlados por nenhuma empresa, não privilegiando um produto específico em detrimento de outro.” (continua depois do clique)
Outro assunto é o ODF. É um padrão de formato de documentos aberto, independente de fornecedor e reconhecido pela ISO, e como sabemos, na última reunião da ABNT, decidiu-se que será colocado em Consulta Nacional durante o mês de março. É a etapa final para ser considerado uma Norma Brasileira (NBR). O ODF tem plenas condições de atender as demandas dos usuários de documentos. Uma visita ao site da ODF Alliance ou a sua versão brasileira vai mostrar como ele já está sendo adotado nas políticas de TI de pelo menos uma dúzia de países. É um padrão dinâmico e extensível. Por exemplo, vamos abordar dois temas que volta e meia são debatidos: assinatura digital e acessibilidade.
Na questão da assinatura digital, a sua versão v1.2, a ser apresentada em breve í ISO, incorpora esta funcionalidade sem afetar o padrão existente. Na acessibilidade, a especificação v1.0 do ODF foi criteriosamente revista por especialistas usando o “Web Content Accessibility Guidelines v1.0†que identificaram que a proposta poderia ser melhorada ainda mais. Estas propostas foram incorporadas í versão do ODF v1.1 e é a mais detalhada revisão que um padrão de arquivos de documentos passou até hoje. O ODF torna-se, portanto, um benchmark em acessibilidade. Por outro lado, recomendo a leitura de um paper escrito por especialistas da Universidade de Toronto, no Canadá, que analisou a proposta do OpenXML e identificou “grave issues with respect to the accessibility of Office OpenXML as a format and potential standard that should preclude its adoption at presentâ€.
Outro ponto interessante é a questão do suporte. Muitos dizem que o software A suporta determinado padrão, como por exemplo o ODF. Mas o que é suportar? Se o suporte não for nativo e facilmente intuitivo em sua utilização, a funcionalidade deixa de ser, na prática, útil para o usuário. Imagine um usuário comum ter que passar por seis ou sete etapas para gerar um arquivo em um formato “suportadoâ€, mas não de forma natural…
E finalmente, quero abordar a reunião chamada BRM (Ballot Resolution Meeting) que ocorrerá de 25 a 29 de fevereiro em Genebra, na Suíça. Na terça feira em reunião na ABNT, o GT que analisou as propostas de alterações enviadas pela Ecma (foram 2.500 páginas de alterações í s mais de 6.000 páginas da proposta inicial) mostrou que a proposição do OpenXML ainda não pode ser aprovada como padrão aberto pela ISO. Assim o Brasil vai manter seu voto NíƒO. No BRM, todas as propostas serão debatidas e as alterações que eventualmente forem aceitas (por consenso ou por voto) serão incorporadas í especificação do OpenXML.
No término da reunião teremos como produto final uma nova versão da especificação e com base nela, os países que já votaram terão 30 dias para alterar ou confirmar o seu voto. Aí então saberemos se o OpenXML estará em um nível adequado para ser considerado um padrão aberto reconhecido pelo ISO.
Para complementar o assunto BRM e o questão da proposta do OpenXML (proposta DIS-29500), que apresenta um grande overlap com o padrão ODF já existente, sugiro a leitura do paper “DIS29500: Deprecated before use?â€. Também referente í tão propalada compatibilidade com os documentos legados, vejam este blog aqui. Vale pena ler!
E para terminar, tenho uma pergunta que não quer calar: será que precisamos mesmo de um segundo padrão para formato de documentos? Não consigo imaginar a vantagem que teríamos em ter duas maneiras diferentes de dizer que um determinado texto está alinhado í direita, em arial e em tamanho oito.
Na minha opinião o benefício gerado por uma maior competição aparece quando existe em um único padrão, aberto e aceito por todos, com vários produtos (open source e proprietários) competindo por funcionalidade e preço. Quem tem dois ou mais padrões, simplesmente não tem nenhum. Uma guerra de padrões só traz prejuízos para a sociedade como um todo: obriga os produtores de tecnologias e seus usuários a se aglutinarem em torno de um ou outro padrão e acaba elevando o custo final, seja dos softwares, seja dos mecanismos de interoperabilidade (um software de conversão é mais um software que deve ser instalado e atualizado), e do próprio aprendizado dos usuários.
Bem, estes assuntos também tem sido constantemente debatidos em meu blog.”
Respostas claras, objetivas, concisas, não-superficiais. É disso que preciso quando alguém da Microsoft se propões a falar sobre OOXML (ou ) e ODF.
A Microsoft fala tanto nos “problemas” do ODF, mas ele pode ser melhorado, alias, já está sendo melhorado como explicou o próprio Cezar: assinatura digital e acessibilidade. Mas ao mesmo tempo tenta esconder/mascarar os defeitos do OOXML e até mesmo distorcer a real necessidade de um segundo padrão (necessidade que não deveria existir, imaginem um segundo padrão concorrendo com o TCP/IP?).
Podemos comparar a qualidade do formato neste caso pela qualidade da entrevista das pessoas que defenderam um ou outro.
[…] Microsoft ‘open’: IBM responde (por Cezar Taurion) – Zumo Blog […]
Nao, Fernando Pessoa, isto nao eh verdade … o ODF (que eh muuuuuuito ruim) eh bem melhor que o pessoal que o defende 🙂
Antes que me esqueca – o Cesar Taurion, que eh funcionario da IBM, deveria pensar duas vezes antes falar em intraoperabilidade – serah que ele poderia explicar interoperabilidade nos mainframes ou seria dificil porque somente existe ‘ intraperabilidade ‘ ? – por sinal, a IBM parece a inventora da ideia da intraoperabilidade … alem disso, serah que a IBM aparece de boa samaritana quando defende o Linux nos ‘ computadores de grande porte’ , mas esquece de dizer que cobra dezenas de milhares de dolares para rodar o OSS nas maquinas dela? – na minha humilde opiniao, a IBM deveria pagar o Cesar Taurionn para fazer pesquisa e desenvolver algo util e nao em tentar impor padroes atraves de lobby ou distorcendo informacoes ou ainda tentar manter seu monopolio de mainframes, com mais de 90% do mercado (ou serah que monopolio eh soh o dos outros???)… triste ver uma empresa 100% comercial (com acoes nas bolsas americanas) tentando se passar por instituicao de caridade …