A NVidia confirmou ontem (13) que fechou um acordo definitivo para comprar a ARM, em uma transação estimada em US$ 40 bilhões.
Você pode não saber quem é a ARM, mas usa produtos dela todo dia – como o Qualcomm Snapdragon Samsung Exynos, Mediatek Helio, os A13 Bionic do iPhone 11 para ficar nos smartphones e o vindouro Apple Silicon nos Macs em algum momento deste ano (fora TVs, Blu-Rays e qualquer coisa que precise de um chip de baixo consumo dentro da sua casa/carro/eletrodoméstico).
A ARM tem um modelo de licenciamento único: ela cria os projetos de referência usando sua arquitetura e os fabricantes adaptam a suas necessidades. E, curiosamente, a aquisição pela NVidia não envolve nenhum chip, já que ambas não têm fábricas.
São mais de 180 bilhões de “computadores” em todo o mundo criados com tecnologia ARM, 22 bilhões apenas em 2019.
O que diz a NVidia?
Em comunicado enviado ontem aos funcionários, o CEO Jensen Huang comenta que a união com a ARM vai criar uma nova empresa “para a era da inteligência artificial”.
Faz sentido: a NVidia vem crescendo nos últimos anos com o advento da IA, um aumento no consumo de games e de computação em nuvem. “Unir o poder de computação IA com o grande alcance das CPUs ARM, vamos aproveitar a grande oportunidade de IA e computação avançada da nuvem, smartphones, PCs, carros autônomos, robótica, 5G e IoT”, disse Huang.
Nesse sentido, é um ponto positivo: a NVidia ganha uma escala que não tinha, incluindo no mundo dos desenvolvedores: Huang cita que a base de devs vai passar de 2 milhões para mais de 15 milhões em todo o mundo.
Huang comenta ainda que o “modelo de negócios da ARM é brilhante”. E promete manter o modelo aberto de licenciamento e a neutralidade com o consumidor já existente, assim como investir em um centro de pesquisa e desenvolvimento em Cambridge, mantendo a operação da ARM no Reino Unido.
O que diz a ARM?
A ARM foi comprada pelo Softbank (grupo de investimento japonês) em 2016. O Softbank fica com “menos 10% da NVidia”. E, claro, os caras estão otimistas – com o velho e bom papo de “visão e paixão ubíquas”, nos termos de Simon Segars, CEO da ARM. “Juntos vamos ajudar a resolver problemas globais, de mudança climática a saúde pública, da agricultura à educação.”. OK.
Onde está a encrenca?
- Local: a ARM é a última grande empresa de tecnologia do Reino Unido. Sua venda para o Softbank já tinha sido questionada na época, e agora não vai ser diferente, com uma grande corporação dos EUA passando a tomar conta de mais propriedade intelectual no mundo dos semicondutores.
A BBC cita o governo querendo “investigar aquisições que representem uma ameaça ao Reino Unido“. A Reuters segue com o tema cita o CEO da NVidia dizendo que vai “fazer um investimento local significativo” – mas não fez garantias de manter empregos locais. - Global: NVidia e ARM juntas significam mais poder geopolítico em semicondutores nos EUA do que no resto do mundo. A aquisição da ARM precisa de aprovações regulatórias em todo o mundo – a China não se manifestou ainda, mas espera-se que irá se posicionar contra.
- Na concorrência: A NVidia repete que vai manter a independência da ARM. Mas a ARM será uma divisão da NVidia, não uma empresa separada – e a NVidia já foi alvo de processos por parceiros licenciados da ARM, como Qualcomm e Samsung. Existe também uma dúvida se a NVidia pode levar a ARM para o mundo do Risc-V, mas já tem analista cravando que isso não deve acontecer tão cedo.
Tem uma sobreposição tecnológica interna também, diz o Register: ambas criam o design de processadores e aceleradores de aprendizado de máquina, uma para o mundo mobile (ARM) primariamente e outra para games, PCs, servidores. A conferir.