O advento do iPhone em 2007 iniciou a Primeira Guerra dos Smartphones. Como qualquer grande momento histórico, poucos perceberam naquele momento que era um fato extremamente importante e que iria mudar o mundo dos PCs e dos grandes fabricantes de celulares.
A ideia de um smartphone conectado o tempo todo e, posteriormente, com a possibilidade de baixar aplicativos, derrubou gigantes líderes de mercado até então (Nokia e BlackBerry) e incentivou toda uma nova economia, ampliada com a chegada do Android em 2008 e o surgimento de novos monstros de telecom (Samsung, que leva quase todos os lucros desse segmento).
Com a Microsoft, sempre atrasada no jogo, comprando a ex-gigante Nokia, a Primeira Guerra dos Smartphones está encerrada.
É o fim de um ciclo em que a Microsoft, um burocrata estilo Vogon ainda capaz de fazer muito dinheiro (=Office), entende e admite que não consegue fazer hardware sozinha, e para isso leva a Nokia por quase metade do valor (US$ 7,2 bilhões) que o Google comprou a Motorola (US$ 12,5 bilhões).
Em uma área de atuação em que poucos ganham muito, ter um bom lastro financeiro (US$ 77 bilhões) vindo da Microsoft e se preocupar menos com perder dinheiro é uma ótima notícia para o que sobrar da Nokia. Com o movimento, a Microsoft deve ser a única fabricante de hardware com Windows Phone no mercado em curto prazo.
Mas a primeira fase acabou, não toda a guerra.
A próxima batalha se dará em duas frentes principais:
1) A migração do featurephone convencional para o smartphone.
Androids abaixo de R$ 400 e Windows Phones sub-R$ 500 são o ponto de interesse de um novo consumidor que tem a curiosidade de se conectar e descobrir que o telefone não é mais apenas para ligações, mas sim para usar redes sociais e se divertir na rede.
Nessa disputa tanto Android quanto Windows Phone têm condições boas de batalha, ainda mais com boa ajuda de marketing de seus patronos. Ainda temos o rumor do “iPhone barato”, mas sempre acreditei que “iPhone barato” é o da geração anterior.
2) Android se consolida na liderança do topo de linha junto com iOS, mas a China vem aí
Existe o comentário chavão de que o Android de hoje representa, para os smartphones, o que o Windows fez para os computadores pessoais nos anos 80: disseminou a cultura e o fato de ele ser aberto (na teoria) para qualquer um permite a qualquer maluco com dinheiro e condições de produzir hardware em apostar nele.
E, como no velho e bom mundo dos PCs, o mercado onde Samsung, Sony e LG (as três que fazem algum dinheiro com Android) atuam é igualmente volátil. A Lenovo comprou a divisão de PCs da IBM e se tornou líder mundial nessa área em queda. A HP não consegue produzir PCs (nem tablets) relevantes faz tempo, e ainda desperdiçou a chance de brigar em smartphones após comprar a Palm. As notícias de crescimento em PCs vêm da Ásia, e a próxima onda de Androids virá da China.
Fabricantes estruturados não faltam: a própria Lenovo é a número 2 na China, Huawei e ZTE têm potencial, e agora com a ida de Hugo Barra, ex-chefão de Android no Google, para a Xiaomi um novo cenário se monta (e quem deixa o cara sair de uma posição essencial sem ter um contrato que imponha quarentena?).
Próximos e interessantes capítulos no mundo mobile vêm aí.
A próxima vítima clara é BlackBerry. Será desmantelada e vendida aos pedaços por qualquer um que queira suas patentes e serviços corporativos. HTC vem na sequência, e serve de exemplo de como um grande nem sempre sobrevive nesses tempos árduos – e é um excelente paralelo para comparação, caso a Nokia tivesse adotado Android em algum momento.
SOBRE A NOVA NOKIA
Dois errados não fazem um certo.
Sigo a Nokia muito de perto desde 2003/2004.
Foi quando os fabricantes começaram a entender que a mídia de tecnologia poderia ter interesse em testar produtos e o celular começava a despontar como objeto de desejo.
Meu primeiro celular foi um Motorola (quem não teve um, seguido por inúmeros Nokia desde então – E63, N80, N73, N95 (que saiu antes do iPhone e tinha potencial de brigar em recursos, mas poucos entenderam isso), N900, Lumia 800 e agora Lumia 920.
Tenho amigos que ainda trabalham lá, espero que não sejam impactados pela burocracia/lentidão de Redmond, mais um monte de conhecidos ex-Nokia (todos de luto no Facebook)
Sobre a aquisição, era mais que esperado desde 2011.
Stephen Elop, CEO da Nokia, era mesmo o “cavalo de tróia” – e ainda vai acabar se tornando chefão da Microsoft no lugar de Ballmer (agora se torna big boss da divisão de Devices da Microsoft).
A Microsoft leva as áreas de serviços e dispositivos, além das marcas Lumia e Asha (logo, não existirão mais smartphones Nokia), e licencia patentes e os mapas do serviço Here, uma fonte conhecida por perder mais dinheiro dentro da velha Nokia e que pelo visto nunca ninguém prestou muita atenção nisso. A Microsoft-Nokia também perde o incrível designer Marko Athsaari.
Para o Windows Phone, é uma boa notícia: a Nokia vai poder se envolver no desenvolvimento do sistema.
A “marca” Nokia continua na Finlândia e se torna responsável pelo Here, pela área de redes (ex-Nokia Siemens Networks) e em “tecnologias avançadas” (seja lá o que isso significar).
De qualquer modo, a Nokia tem mais de 100 anos de idade. Pra uma empresa que já fez papel, galocha e pneu, telefonia é só mais um negócio que se desfizeram para se transformar de novo.
[…] como “terceira via” dos sistemas operacionais e sua unidade de smartphones acabou sendo comprada pela Microsoft em 2013, onde definhou (até chegou a lançar um smartphone com Android, o Nokia X) e começou a […]