O que aconteceu
- LG anunciou hoje (5) na Coreia sua saída por completo do mercado de smartphones, após terceirizar o design e fabricação de aparelhos de entrada/intermediários e tentar vender a unidade para outras empresas, sem sucesso.
- Foram 23 trimestres de prejuízo desde 2015, com perdas de 4,1 bilhões (!).
- O fim da unidade está previsto para 31 de julho de 2021, mas o varejo pode ainda ter algum inventário em estoque por um tempo.
- Diz a LG que a “decisão estratégica de sair do setor incrivelmente competitivo de aparelhos móveis vai permitir à companhia focar recursos em áreas de crescimento, como componentes para carros elétricos, aparelhos conectados, casas inteligentes, robótica, inteligência artificial e soluções B2B, assim como plataformas e serviços”.
- E que “a LG seguirá aproveitando seu conhecimento em mobile e desenvolver tecnologias móveis relacionadas, como 6G, para ampliar a competitividade em outras áreas de negócios. Tecnologias essenciais desenvolvidas em duas décadas da operação de celulares da LG irão ser mantidas e aplicadas para produtos existentes e futuros”.
- Em relação a suporte de produtos e atualização de software, a LG afirma que “irá fornecer para produtos atuais por um período de tempo que vai variar por região”.
O que importa
A LG é mais uma fabricante a fechar a unidade de smartphones. Já ocorreu com a Sony Mobile, com a HTC (que vai e vem na Ásia) e é um processo de adaptação à realidade: é o mercado mais competitivo nos eletrônicos de consumo onde é preciso vender em grandes volumes as linhas básicas e intermediárias e tentar manter uma presença no mercado premium, muito mais lucrativo.
Como alguém disse no passado, “LG e Sony só mantém a unidade de smartphones por ego de executivo” – para dizer para o resto da companhia que “estamos em todas as áreas de negócios”.
A Sony ajustou as operações para poucos países, a LG vem há anos tentando acontecer, mas nada acontece. Outras fabricantes como a Asus entenderam a dificuldade do mercado e se concentraram em nichos específicos – como games e criação de conteúdo em vídeo – nos últimos dois anos.
Some a isso tudo a crise de chips global (e a dependência da LG de terceiros, como Qualcomm e MediaTek para seu fornecimento) e o crescimento de marcas vindas da Ásia – Xiaomi, Oppo, Realme – também com expansão global e estratégias agressivas de crescimento.
Eu vejo um aparelho específico como o grande início da queda da LG: o tenebroso LG G5, lançado em 2016, um smartphone modular com peças móveis que poderiam quebrar (!) na mão do consumidor.
Era uma ideia ótima – um aparelho com módulos adicionais que melhoravam ou mudavam a experiência. Foi também um smartphone anunciado com uma configuração topo de linha no exterior, mas foi o primeiro que veio com menos recursos para o Brasil (era outro processador mais básico) – mas com o mesmo preço premium, estratégia que seguiu em outros aparelhos até 2020 (como o lindo Velvet)
Por outro lado, ideias incríveis como o LG G Flex foram abandonadas com o tempo. Outro exemplo legal, mas terrivelmente executado: em 2019 a LG lançou o G8X ThinQ, smartphone com duas telas – ideia incrível para ser uma alternativa mais em conta que telefones dobráveis, mas a experiência de uso era sofrível (ao ponto de eu ter que perguntar como usar recursos para a empresa… e o gerente de produto não saber responder). E outras ideias doidas/interessantes, como o telefone que enrola (mostrado na CES em janeiro), pelo visto ficam em suspenso.
No Brasil, ainda existe uma questão a ser respondida pela LG – o que vai acontecer com a fábrica de celulares de Taubaté. Em um segundo comunicado enviado em português durante a noite, a LG diz sem dizer muito:
“Como uma companhia que valoriza profundamente a contribuição de cada funcionário, cliente e parceiro LG, nós comunicaremos de forma aberta e transparente durante este processo, buscando uma abordagem justa e pragmática, enquanto atendemos as obrigações jurídicas.”
Mandei um e-mail para a LG perguntando sobre o que será feito com a operação de Taubaté. Se tiver uma resposta, atualizo esse post.
O G1 diz que a fábrica de Taubaté também produz monitores e que 400 dos 1000 funcionários estão alocados para a manufatura de celulares. A fábrica de Manaus da LG produz outras coisas (linha branca) e não deve ser afetada.
E fica a dica para Xiaomi e Realme: tem uma fábrica de smartphones quase pronta esperando para ter um dono novo.
Para o consumidor brasileiro, a saída da LG significa duas coisas:
1) maior concentração das vendas nas mãos da Samsung e Motorola (LG oscilava no top 5 de vendas por aqui graças à linha K)
2) uma oportunidade enorme de crescimento para Nokia, Xiaomi e Realme de ocuparem mais um espaço vazio deixado em smartphones de entrada e intermediários (premium no Brasil hoje é Apple e Samsung e boa sorte para quem quiser tentar concorrer com as marcas).
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