Um mês atrás, numa noite de domingo, o Google anunciou que iria suspender seus negócios com a Huawei, cumprindo a decisão determinada pelo governo norte-americano que colocou a fabricante em uma lista negra na semana anterior.
Com a decisão, a Huawei ficaria sem acesso ao Android, usado nos seus smartphones (e um efeito colateral de outros banimentos e suspensões pela indústria global de tecnologia). Neste post, tento resumir (na medida do possível) o que aconteceu neste último mês (e tem uma análise lá no fim).
Parte dessa cronologia foi publicada na newsletter Interfaces, que circula toda sexta-feira (é de graça, assine!) – agora a cronologia na newsletter acaba, ficando restrita a grandes notícias.
19-20 de maio
A Reuters soltou a bomba ontem à noite: “o Google, da Alphabet Inc. [holding que controla a empresa], suspendeu os negócios com a Huawei que requerem a transferência de hardware e software, exceto aqueles cobertos por licenças open source.” O The Verge confirmou a informação com uma fonte independente e com o próprio Google, que disse estar seguindo as ordens do Departamento de Comércio dos EUA.
Qualcomm, Intel, Infineon, Western Digital, Micron Technologies e Broadcom também estão cortando laços com a Huawei (esse gráfico informa quais são as empresas mais prejudicadas com o banimento, e ações já começaram a cair nos mercados globais). A Huawei, prevendo a situação, fez um estoque de peças por três meses.
Na semana passada, Donald Trump assinou uma ordem executiva proibindo as empresas norte-americanas de comprar equipamentos de telecomunicações de fornecedores estrangeiros, por conta de “risco à segurança nacional”.
É a velha história de “a Huawei espiona as pessoas porque o governo chinês é dono dela” (alegação que ninguém conseguiu provar até o momento, por sinal). Grande desculpa para banir produtos chineses na guerra comercial/tarifária entre EUA e China.
Parte disso também tem a ver com a questão do desenvolvimento de tecnologias 5G pela Huawei e que serão adotadas por diversos países da Europa e Ásia neste ano (indo contra a recomendação dos EUA). Pequeno nó na cabeça: tanto Ericsson como Nokia têm fábricas na China e existe um consenso generalizado que não estão tão avançadas no desenvolvimento do 5G. No Brasil, essa discussão fica só pra 2020, quando teremos leilões de espectro 5G.
Ao Asia Times, representantes da comissão europeia disseram que o banimento dos EUA não terá impacto no desenvolvimento do 5G na Europa. Mas de qualquer modo, a entrega de equipamentos pode vir a sofrer atraso em um futuro próximo. A Telefónica na Espanha já está revisando o banimento por parte dos EUA.
O que isso significa?
O consumidor global corre o risco de pagar a conta. Um analista estima que em 2018 a Huawei vendeu 80 milhões de smartphones fora da China e dos EUA, onde não comercializa telefones (mas vende notebooks). Canadá, América Latina (e agora Brasil), Europa e Ásia levaram a Huawei a sua posição no mercado global de smartphones.
Na prática, o banimento apenas do Google significa tirar o acesso da Huawei a atualizações do Android e a apps e serviços como Google Play, YouTube e Gmail, deixando os donos de smartphones da marca sem esses serviços/apps/upgrades. E sem serviços de localização ligados ao Maps, notificações do sistema, Google Assistente, Google Fotos e por aí vai.
O Engadget diz que não é bem assim e que o suporte às atualizações do Android e acesso ao Google Play continuam, só que sem interações próximas entre Google e Huawei (o que faz mais sentido).
Um porta-voz do Google disse à Reuters que donos de aparelhos Huawei continuarão a usar os serviços do Google normalmente, porém atualizações de sistema operacional não devem ocorrer. O banimento dos EUA afeta futuros smartphones da Huawei.
Em nota oficial enviada por e-mail, a Huawei diz:
“A Huawei tem feito contribuições substanciais para o desenvolvimento e crescimento do Android em todo o mundo. Como um dos principais parceiros globais do Android, trabalhamos de perto com a plataforma de código aberto para desenvolver um ecossistema que tem beneficiado tanto usuários quanto o setor. A Huawei continuará a fornecer atualizações de segurança e serviços de pós-venda para todos os produtos Huawei, cobrindo todos aqueles que já foram vendidos ou ainda estão em estoque. Continuaremos empenhados em construir um ecossistema de software seguro e sustentável, a fim de fornecer a melhor experiência para todos os nossos usuários globalmente.”
O Google, via Twitter, confirma a informação.
Vale lembrar que hoje a Huawei é a segunda maior fabricante de smartphones do mundo, com 19% de market share e 59,1 milhões de smartphones vendidos no primeiro trimestre de 2019, segundo o IDC). Se um banimento completo ocorrer, esses milhões de usuários estarão sujeitos ao incerto (incluindo questões de segurança ligadas aos updates mensais do Android) e terão menos opção de escolha no mercado.
O mercado chinês de smartphones com Android existe sem serviços do Google, usando o Android Open Source Project, ou AOSP, que é uma espécie de sistema básico de código aberto – um Android “pelado”, digamos. Isso ocorre porque o Google não opera na China e o acesso a todos seus serviços é bloqueado no país pelo Grande Firewall (assim como outras redes sociais, sites de notícias e a Wikipedia). Fabricantes, operadoras e lojas independentes distribuem apps e atualizações.
Nossa análise
No mundo dos desenvolvedores chineses consultados por esta Interfaces, o medo é a Huawei focar apenas no mercado interno e canibalizar as demais marcas (Xiaomi, Oppo, Vivo), com quem convive razoavelmente bem.
Existe ainda um temor de outras marcas serem banidas pelos EUA, dependendo da reação do governo chinês (por exemplo, uma opção nuclear seria a China banir a Apple, aumentar de forma indecente os impostos de produtos da Apple saindo da China ou mesmo proibir a fabricação de produtos norte-americanos na China). Isso pode ser visto também como uma oportunidade de se tornarem independentes do Google e outros sistemas norte-americanos.
A grande questão é política e econômica, não tecnológica. Estamos vendo a Guerra Fria 2.0, onde a ameaça de bombas é substituída por uma ordem executiva que bane empresas de um país de fazer negócios com outro. Uma proibição dessas, a médio prazo, pode implodir o negócio de smartphones da Huawei no mundo. Não acreditamos que isso vá acontecer e a diplomacia deve falar mais alto. Não é pela segurança, é pelo dinheiro.
Não somos especialistas em economia, mas nenhum teórico deve ter previsto que um país liberal iria banir empresas (e afetar o mundo todo) com a assinatura de uma ordem executiva. Isso remete às sanções impostas a países em conflito armado, ou que cometeram crimes de guerra ou entraram em confronto de alguma maneira, em que as empresas sofrem a punição em razão de seus controladores.
Agora é preciso aguardar a resposta da China e o resultado de novas negociações entre China e EUA.
Tem alternativa?
A Huawei não pode dizer que foi pega de surpresa. Em março, Richard Yu, CEO da divisão de consumo, disse ao jornal alemão Welt que “temos pronto nosso próprio sistema operacional. Caso a gente não possa mais usar esses sistemas, estaremos prontos e temos nosso plano B”. Os sistemas que eles não poderiam mais usar no caso, são o Android e o Windows.
Entretanto, distribuir um novo sistema operacional (e se ele vai vingar) em escala global é uma tarefa hercúlea (imagine fazer a atualização de ao menos 80 milhões de aparelhos, se contarmos apenas a estimativa de 2018).
Mas há um bom exemplo para a Huawei se inspirar: a cada lançamento de novo iOS (da Apple), a taxa de upgrade é bastante alta (83% de todos os iPhones lançados nos últimos 4 anos já rodam o iOS 12, o mais novo). Mas estamos apenas jogando o jogo do otimismo aqui.
A Samsung já testou uma carreira solo sem Android com o Tizen, sistema operacional baseado em Linux (cuja origem remonta aos velhos e bons tempos da Nokia) e que deveria equipar smartphones.
Na prática, o Tizen foi adotado pela Samsung apenas em TVs e smartwatches – onde funciona muito bem (tem até apps da Apple para a TV, olha só).
Planos para o Brasil?
Em notas paralelas porém simultâneas, o MyDrivers (da China) encontrado pelo PisaPapeles (do Chile) ventila a ideia de uma possível fábrica de smartphones da Huawei no Brasil. Reza a lenda no mercado há algumas semanas que será na Flex de Sorocaba – mas são apenas rumores ainda sem confirmação.
Antes disso, precisamos descobrir se Jair Bolsonaro vai mesmo comprar a briga de Trump com a Huawei (antes é necessário avisar ao líder da nação que grande parte das redes móveis brasileiras roda em infraestrutura Huawei).
O vice-presidente no momento está na China em visita oficial e diz que o Brasil está “aberto a propostas” para investimentos em infraestrutura, mas com foco em portos e ferrovias, sem mencionar telecomunicações.
Ainda no dia 20, escrevi sobre o efeito dominó da Huawei.
21 a 31 de maio
Na noite de segunda, o Departamento de Comércio dos EUA deu uma extensão de prazo de 90 dias para a Huawei continuar se relacionando com o Google e outras empresas locais. É um respiro, mas são só três meses.
No começo do mês, apareceu um sinal: a corrida pela engenharia reversa de chips ARM já dava o alerta de que uma tempestade se aproximava. Agora com a ARM largando o suporte à Huawei (e sem ARM, sem chips Kirin), há um risco de darmos adeus à unidade de smartphones da Huawei. Vários outros fornecedores pularam do barco também durante a semana.
Vlad Savov, editor do Verge, vai além e afirma que é assassinatocovarde por parte dos EUA. Mas nem Trump parece saber explicar direito porque baniu (o secretário de Estado fala em mentiras da Huawei, a China diz que é tudo rumor, as bolsas de valores seguem caindo). Existe a desculpa da segurança nacional, mas, como o mesmo Verge questiona, o que a venda de vidro para um telefone a ser vendido na Europa tem a ver? Ou a Huawei é só moeda de troca? Pelo visto, sim. Logo o veto cai e pronto, a crise passou.
Contexto: a Huawei tem necessidades (e até vulnerabilidades técnicas) na sua área de processadores. Apesar de desenvolver seus chips Kirin, ela depende muito de algumas tecnologias norte-americanas para criá-los, e a ARM (apesar de inglesa) é fundamental nesse cenário.
Tecnologia, software e fabricação por parte da Huawei têm uma explicação complexa sobre as vantagens da China – e a Europa está presa no meio do cabo de guerra. Por outro lado, empresas americanas como a Apple podem ficar reféns da fabricação chinesa.
Ren Zhengfei, fundador da Huawei, afirma que é para culpar políticos, não empresas, e que a companhia está sendo subestimada. A empresa diz ser vítima de bullying, mas está trabalhando com o Google para resolver a situação de forma definitiva (e captando dinheiro no mercado). De qualquer modo, o sistema operacional alternativo pode sair logo mesmo (há dúvidas) – mas você já viu a lojinha de apps da Huawei?
A teoria de que o Google também será afetado na disputa EUA/China é real (e, por que não especular, a própria potencial reeleição de Trump). Quem ganha com todo esse FUD em um primeiro momento? A Samsung.
No lado dos aparelhos novos, na lista de vítimas da sanção do Google em potencial estão o dobrável Mate X e o recém-anunciado Honor 20. Operadoras na Europa e no Japão também começaram a suspender a venda de smartphones Huawei, incluindo modelos com 5G.
Ainda não existe suspensão por parte da Microsoft com o Windows nos notebooks Huawei, mas a turma de Redmond já removeu os modelos da sua loja online.
Finalmente, a DJI, conhecida fabricante de drones, é a próxima na lista de banimentos dos EUA, junto da empresa de vigilância Hikvision. Motivo? Suspeita de espionagem.
No Brasil, alguns reflexos: as operadoras Oi e Claro dizem que se o país entrar na onda dos EUA, será um “inferno” para o setor de telecom. O vice-presidente Mourão “vê com muitos bons olhos a Huawei”. O diretor da área de consumo da Huawei no país disse que “há um diálogo permanente entre EUA e China” e a área de relações institucionais informa que a relação com clientes está mais forte.
Vale lembrar sempre que 50% do tráfego de rede das operadoras passa por infra-estrutura da Huawei no Brasil – e a TIM anunciou que vai fazer um teste de 5G em Florianópolis usando tecnologias Huawei (e em outras cidades com Nokia e Ericsson).
Em tempo: vale visitar o portal de notícias em chinês da Huawei. Ligue o Google Translator e leia as analogias de Ren Zhengfei com a guerra. É fascinante.
25/5: A Huawei recebeu restrições da Wi-Fi Alliance e se retirou de uma entidade que cria padrões para semicondutores.
26/5: Ren Zhengfei diz que os EUA nunca compraram da Huawei e que não podem atuar como polícia do mundo. Afirma ainda que não quer retaliação da China.
27/5: No Brasil, a empresa diz ser pragmática e que é bem-vinda por aqui. E falou sobre 5G e os testes com operadoras. O El País entende que o problema é o 5G, não a Huawei (¯\_(ツ)_/¯).
28/5: O substituto do Android nos aparelhos Huawei será lançado em junho, garantiu o TechRadar (que depois chutou o prazo para 2020). A Bluetooth SIG cortou relações.
A FedEx sumiu com pacotes da Huawei, e rumores indicam que fornecedores da Apple já começaram a mudar de país. Imagine quando os EUA, já muito “ansiosos” com a gigante de Shenzhen, descobrirem que a Huawei investe pesado em cabos submarinos.
29/5: Nos EUA, a Huawei voltou a aumentar a pressão no processo judicial que move contra o país. O IEEE sugeriu aos seus membros que funcionários da empresa não façam revisão por pares de papers científicos submetidos ao órgão.
A SD Association voltou atrás e liberou o uso de cartões SD pela Huawei (e o editor do Android Central fez o melhor trocadilho em inglês). A operadora japonesa SoftBank optou por Nokia e Ericssonpara sua infraestrutura 5G.
30/5: Vazou um tablet Android da marca, o MediaPad M6 (os wearables da marca continuam vendendo bem, segundo o IDC). O Procon de São Paulo notificou Huawei, Google, operadoras e varejo buscando informações para proteger o consumidor, em uma medida “o que estou fazendo aqui?”.
E não é nada, não é nada, o Google volta a mostrar a Huawei no site de testes beta do Android Q, de onde tinha sido removida.
31/5: A China anunciou suas primeiras medidas de retaliação. Um dos focos de restrição será o acesso a metais raros para uso em eletrônicos.
Junho de 2019
01/6 – A meta da Huawei de ser a número 1 em vendas de smartphones e passar a Samsung está sendo reavaliada (a Huawei nega a pausa na produção, mas o mercado global vai entrar em queda).
02/6 – O fundador da ARM diz em entrevista que o banimento da Huawei vai causar problemas para todo o mundo da tecnologia, incluindo o Google. O IEEE voltou a permitir a revisão por parespor cientistas da Huawei.
03/6 – A unidade de cabos submarinos da Huawei está à venda. No Brasil, a empresa reafirma seu plano de pelo menos três anos para smartphones. Na Finlândia, a Nokia diz que já tem mais contratos5G que a Huawei.
04/6 – O Washington Post fez um levantamento com 80 especialistas em cibersegurança. 61% deles concordam que o banimento da Huawei não muda nada para os EUA.
05/6 – A Huawei vai ajudar a Rússia a desenvolver sua infra-estrutura 5G em 2020 (CNN chama de “cortina de ferro”). Nos EUA, o banimento vai ser um problema para a internet rural, e a Huawei volta a falar de um acordo de “não espionar” (os americanos que vendem para a Huawei já estão sentindo o peso).
06/6 – O Procon ouviu a Huawei. O Google Brasil fez um comentário controverso sobre a política de privacidade dos chineses. A interface EMUI 9.0 usada pela marca está presente em 80 milhões de smartphones, com previsão de chegar a 100 milhões até o fim do mês.
07/6 – Boa notícia: o Facebook vai parar de espionar em smartphones Huawei, deixando de pré-carregar os apps nos aparelhos – porém os aplicativos podem ser baixados.
O Google diz que os EUA ficam em uma situação vulnerável de segurança se o banimento da Huawei prosseguir. O vice-presidente Mourão volta a descartar um veto brasileiro à Huawei no 5G local (e pergunta “cadê a empresa americana?” no desenvolvimento do 5G).
8/6 – Um resumo inesperado no Estadão sobre o caso. Na Veja, a intenção de abrir lojas próprias no Brasil (paywall) – mas a empresa não confirma.
9/6 – A marca NOVA foi registrada pela Huawei na Europa em 28 de março. Nova já é o nome de uma linha de smartphones intermediários, mas também pode ser (chute nosso) uma marca europeia da Huawei, fugindo dos embargos dos EUA.
A resposta chinesa – uma lista de empresas norte-americanas banidas – parece estar prestes a sair. Intel, Qualcomm e LG estão proibindo (errr, citando o compliance) seus funcionários de falar com pessoas da Huawei sobre 5G.
10/6 – A suspensão do banimento da Huawei nos Estados Unidos pode passar de três meses para três (ou até quatro) anos, de acordo com o Washington Post. Mas é apenas o pedido do chefe do orçamento da Casa Branca em busca de maior segurança para os EUA a médio prazo – o que faz sentido. A Cisco diz que o banimento não impacta seus negócios.
11/6 – Fontes indicam que a Apple consegue produzir iPhones fora da China. O nome do novo OS da Huawei (“HongMeng”) foi registrado no… Chile (e em outros países). Na CES Ásia, a Huawei admitiu que não deve chegar a número 1 em smartphones neste ano.
12/6 – A Huawei resolveu cobrar US$ 1 bilhão da operadora Verizon, nos EUA, pelo uso de 230 patentes e pediu pra FCC (a Anatel dos EUA) não se intrometer em questões relativas ao banimento
13/6 – No México, a Huawei prometeu investimentos “pesados” aos países que adotarem suas tecnologias 5G. E em semana de E3, quem disse que a Huawei ficaria de fora das ofertas de cloud gaming?
14/6 – O smartphone dobrável Mate X terá seu lançamento atrasado. Diz a Huawei que a culpa é da tela dobrável que precisa ser aprimorada (e os problemas que a Samsung teve com o Galaxy Fold, não o embargo de Trump.
15/6 – Uma grande matéria em português sobre como a Huawei quer convencer os países a não boicotá-la.
16/6 – Fabricantes de semicondutores nos EUA (incluindo Qualcomm e Intel) fazem lobby para derrubar as restrições da Huawei – de novo, o argumento de “é melhor deixar assim e manter a segurança do que fechar tudo e perder acesso”. Como diria o AC/DC, “Money Talks” (600 empresas, incluindo Walmart, Target e Gap, dizem ao governo Trump que a guerra comercial vai levar ao desemprego e prejudicar milhões de consumidores).
Um colunista da Bloomberg acredita que a Huawei consegue fabricar smartphones sem a necessidade de componentes norte-americanos (mas vai demorar).
17/6 – Ren Zhengfei volta a falar, em uma entrevista ao vivo no YouTube, no canal da Huawei (tem uma transcrição em português). Um número estimado por conta da restrição vem à tona: ao menos US$ 30 bilhões de receita perdida em 2019.
A Microsoft voltou a vender notebooks Huawei na sua loja online nos EUA. E o Chile diz que não vai excluir a Huawei da sua infraestrutura 5G.
18/6 – A Cisco não faz negócios com a Huawei (afinal, é concorrente), mas seu CEO disse para o time de vendas não usar geopolítica como argumento comercial. Nas Filipinas, a subsidiária local prometeu reembolsos caso apps do Google (ou outros dos EUA) não funcionem.
O smartphone Nova 5 aparentemente será apresentado no dia 21, com chipset atualizado. A conferir.
19/6 – Uma análise da Fortune explica porque a turma dos semicondutores não quer que a Huawei perca acesso: US$ 11 bilhões de receita estimada anual só para empresas norte-americanas.
Como efeito colateral disso tudo, a Apple parece diz ter comunicado mesmo seus fabricantes na China para mudar as linhas de produção para outros países.
Na Espanha, a maior loja da Huawei será inaugurada mês que vem e a empresa diz se sentir um “peão acidental” na relação EUA/China.
No Brasil, a operadora Vivo criou um infográfico para explicar aos consumidores a situação da Huawei – a Vivo é a única operadora a vender os smartphones da marca no Brasil.
O que vem agora?
Um mês depois, a situação continua indefinida. Quem diz saber qualquer coisa sobre o caso Huawei x EUA está chutando – de quando isso acabar a quando (ou se) sai o sistema operacional da Huawei.
Algo interessante de observar é a reação do consumidor comum em redes sociais, defendendo a Huawei na maioria dos casos – e um comprador de smartphone na Europa, Ásia ou Brasil não tem nada a ver com uma disputa comercial entre dois países. Mas é o consumidor que vai acaba sendo mais afetado, no final das contas.
Algumas conclusões, porém, saem desse caldo todo:
- Google e fabricantes de semicondutores têm uma grande parte do seu faturamento vindo da Huawei. Um banimento permanente afeta o fluxo financeiro de forma efetiva de diversas companhias norte-americanas.
- O próprio conceito de “empresa norte-americana” é algo muito fora da realidade – as corporações são globais. Ela pode ter sido criada nos Estados Unidos, mas tem finanças controladas pela Europa (vide as questões de impostos da Apple na Irlanda) e fornecedores / parceiros / filiais ao redor do mundo. Volto ao exemplo da Apple e sua pressa em remover parte da fabricação da China, com medo de retaliações.
- Falei com algumas pessoas da Huawei neste período. Uma observação interessante que ouvi (fora da gravação) é a velha e boa filosofia chinesa de “crise é igual a oportunidade“. Talvez os chineses saibam lidar melhor com uma crise que os ocidentais.
- Semana que vem tem a reunião do G-20 no Japão. O presidente Trump disse ontem que teve uma ótima conversa com o presidente da China e que algo mais extenso será discutido no encontro do G-20 em Osaka:
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