Algumas semanas atrás surgiu a história de que a fabricante de smartphones Oppo iria “entrar no Brasil” pelo Paraguai, com a inauguração de uma loja em Ciudad del Este.
Seria mais uma marca grande no exterior chegando ao Brasil, ou ao menos perto dele. Seria: a Oppo acabou de soltar um comunicado dizendo que não está vindo ao Brasil (ou América Latina) e que aparelhos vendidos aqui não terão suporte/atualizações.
Disse o TudoCelular (e replicado em todos os sites de tecnologia por aí), em 23 de julho:
A Oppo vai inaugurar uma loja oficial em Ciudad del Este, no Paraguai, ainda neste trimestre. A iniciativa é de um grupo brasileiro que, garante, haverá distribuição para o mercado brasileiro, também.
Entre os seis modelos já confirmados, o Find X é uma das certezas de disponibilidade para os paraguaios e brasileiros. A loja funcionará como sede oficial da Oppo na América Latina.
O mesmo TudoCelular cita o grupo Multishop como responsável pelo empreendimento e parceria com a Oppo. A Multishop é uma loja legítima no Paraguai e trabalha com diversas marcas, incluindo a Oppo.
Essa história da Oppo já tinha feito uma pulga coçar atrás da minha orelha.
Antes, um interlúdio mercadológico:
Não escrevo sobre “celulares importados da China” (leia-se Xiaomi, Oppo, Vivo e afins) pelo simples motivo de acreditar que não existe razão de comprar um aparelho desses via importação: você não sabe quando ele vai chegar à sua casa, não tem garantia, não tem assistência técnica e, se quebrar, você está sozinho – o barato saiu caro.
Se você compra “mais barato importando”, você está apenas querendo ser brasileiro esperto-que-se-dá-bem-em-cima-dos-outros.
Desculpa aí, mas essa é a verdade – pagar imposto, incentivar a economia local, gerar emprego na fabricação/venda/distribuição/reparos etc é algo que é razoavelmente importante para um País, mesmo sendo a bagunça que o Brasil é.
Perguntei no início desta semana a uma fonte de mercado (obrigado, fonte!) sobre a Oppo chegando ao Paraguai e a resposta foi direta: “ninguém conhece esses nomes no mercado”.
Uma busca rápida em redes sociais não resultou em grandes respostas também. Perguntei aos meus gurus de Anatel e eles disseram que nada de Oppo passou pelo SGCH. Se você quer vender um smartphone no Brasil, precisa de aprovação da Anatel.
O que eu acredito que essa loja é?
A loja pode ser de verdade. Ela só não é… uma loja oficial da marca.
Mas deve ser uma operação da Multishop (ou sei lá de quem) importando produtos da Oppo direto da China. Tanto que vai ter um evento de inauguração no próximo dia 22, e eu até conheço alguns jornalistas que foram convidados ao lançamento em Ciudad del Este.
A conferir no dia 22, se alguém for ao Paraguai, claro — Ah sim, e quem for me traz um Juanito Andante, OK?
Só que a notícia repercutiu tanto (vide o TudoCelular com uma amostra de aparelho para review, o que teoricamente prova meu conceito de que a loja vai existir de algum jeito – nem que seja um “corner” dentro de uma multimarcas) que chegou à China, e agora os chineses decidiram se posicionar.
Abaixo está o comunicado oficial da Oppo, enviado agora mesmo pela sua agência de comunicação:
Declaração
Alguns canais de mídia reportaram recentemente que a OPPO, a fabricante de smartphones nº 1 da Ásia e nº 4 do mundo, está investindo na abertura de uma filial e uma loja na América Latina. Gostaríamos de esclarecer que isso não é verdade e que as partes envolvidas nessa ação não representam a Guangdong OPPO Mobile Telecommunications Corp., Ltd. (OPPO China). Até o momento, a OPPO China não autorizou nenhuma organização ou pessoa a comercializar seus telefones na América Latina nem nomeou qualquer pessoa como sua representante na região.
Alertamos também os consumidores de que os celulares OPPO China vendidos por canais não oficiais não receberão suporte da empresa, não serão atualizados e não terão direito ao serviço de atendimento ao consumidor. Os distribuidores locais devem ficar atentos ao tipo de suporte oferecido por esses revendedores não oficiais, já que eles serão os únicos responsáveis por eventuais perdas ou danos materiais causados aos consumidores. Para a OPPO China, este tipo de atividade é bastante prejudicial aos consumidores da América Latina.
A OPPO China investe em pesquisa, desenvolvimento, fabricação e venda de dispositivos de comunicação móvel. Segundo o IDC, em 2017, a OPPO classificou-se como a nº 4 do mundo, tendo vendido mais de 111 milhões de unidades. Hoje, mais de 200 milhões de usuários têm smartphones da OPPO China.
Fundada em 2004, a OPPO China iniciou sua expansão internacional em 2009. Com sede em Guangdong, China, a empresa está presente em 35 países e regiões, oferecendo produtos de ponta e serviços para usuários locais. A principal meta da OPPO China é fornecer serviços e produtos excelentes para consumidores do mundo todo de forma contínua.
Guangdong OPPO Mobile Telecommunications Corp., Ltd
Shenzhen, Guangdong, China
16 de agosto de 2018
Vale lembrar que a Oppo está no Top 5 de maiores vendedores de smartphones do mundo e acredito que não seriam inocentes o suficiente de entrar no Brasil por um outro mercado próximo (mesmo aprendendo com a lição da Xiaomi).
Tentei pedir o contato da assessoria de imprensa/marketing da MultiShop via Facebook e pela página de Instagram da Oppo Brasil Oficial.
Até o momento da publicação deste post a MultiShop informou que “assim que possível passaremos essa informação”.
Nagano comenta: Aparentemente, tudo leva a crer que se trata de uma ação local de algum distribuidor independente que resolveu fincar a bandeira da marca chinesa (na sua lojinha) e marcar posição no melhor estilo “se ninguém é, então a gente passa a ser tá?”
Já vimos muito disso no passado, como por exemplo uma empresa local que lançou “oficialmente” as pilhas Eneloop no Brasil em meados de 2009:
Na época estava eu escrevendo um post sobre essas pilhas recarregáveis e quase caí da cadeira quando topei com essa página — mas achei o seu conteúdo meio genérico, especialmente na parte de “onde comprar” que não indicava nenhuma loja daqui ou mesmo de fora.
Ai na dúvida liguei para meus contatos dentro da “dona de todos os direitos reservados” — a Sanyo Brasil — para esclarecer essa história e a resposta deles foi:
(filtro anti-palavrão ligado)
“Sim Mário, a gente conhece essa página — só que esses caras não tem nada a ver com a gente — e não Mário, a Sanyo não vende Eneloop no Brasil”
(filtro anti-palavrão desligado)
Ah, então tá bom né?
De fato, as Eneloop só chegaram oficialmente no Brasil em maio de 2016 pelas mãos da sua nova dona, a Panasonic do Brasil.
Happy happy! Joy joy! 😀
Update 17/8: ontem ainda o mesmo TudoCelular sustenta sua história de que a Oppo vai vir mesmo, via uma ordem de Dubai. Queria saber em que empresa do mundo uma subsidiária toma uma decisão e não avisa a matriz. A Oppo ficou de comentar o tema – o fuso horário não ajuda muito.
Update 2 17/8: novo comunicado oficial da Oppo sobre o caso de Dubai
Olá, Henrique, tudo bem?
Com relação ao questionamento de ontem, recebemos agora o novo posicionamento da Oppo:
– O representante da Oppo em Dubai não está autorizado a abrir novos mercados para a Oppo.
– Confirmamos com nosso representante em Dubai que eles nunca autorizaram qualquer organização ou indivíduos no Brasil ou no Paraguai a iniciar a operação ou fazer negócios na América Latina.
Em tempo: refletindo sobre isso tudo – e com as respostas da Oppo – que foi iniciativa da Oppo-Paraguai-Oficial foi ideia de um importador/revendedor (o Canal Tech ainda cita uma outra marca, a importadora Cool SLR, também sem registros no Google). Só que a ideia foi pro buraco, já que esqueceram de combinar com os chineses.
Como o TudoCelular agora diz que o evento foi cancelado e a Cool SLR afirma que vai atuar com lisura – isso pra mim só confirma o conceito de que realmente é uma loja da Oppo, só não tem a bênção da Oppo.
Update 3 21/8: atualizei a imagem com uma foto da loja da Oppo em Shenzhen.
Depois da tal volta da Nokia via loja em Vitória da Conquista, a vinda da Oppo via Ciudad del Este….
PS.: Henrique, eu quero comprar um Android One legalmente no Brasil, mas ninguém quer me vender…
calma, cara 🙂
Me recuso a comprar porcarias “nacionais”. Além de caras são uma vergonha.
Me perdoe, mas essa desculpa pra ser contra a importação foi bem desinformativa e preconceituosa. Quase todos os aparelhos que chegam aqui pagam impostos e as maiores marcas já contam com assistências (obviamente, não oficiais). Dependendo do frete, tem como fazer pinpoint de localização.
Quando me perguntam eu recomendo quase sempre aparelho nacional, mas ha casos (como o citado do Android One) em que nosso mercado carece de opções. Por isso não dá pra execrar essa alternativa, pelo menos não com esses argumentos.
Não vou comentar sobre a questão da importação, porque o Ícaro já resumiu a minha opinião.
Agora sobre a Oppo, eu não consigo olhar pra essa fabricante e ter confiança nela, apesar de saber que marca chinesa, hoje em dia, não é sinônimo de porcaria – como um dia já foi.
De qualquer forma, precisamos de novos players aqui. Não gosto da Lenovo/Motorola pelo estilo dos seus smartphones (que saem completamente da simplicidade), tampouco da LG e da Asus. Me sobra Samsung, Sony (?) e Apple (meh). Não são opções que se enquadram nas minhas expectativas.
O que você usa hoje em dia, Henrique? Por que escolheu essa fabricante/aparelho?
Só lembrando que a OPPO é dona da OnePlus. E que junto da Vivo, são da BBK, a terceira maior fabricante de telefones no mundo.
https://qz.com/1215263/who-makes-oppo-vivo-oneplus-and-imoo-smartphones-the-same-company/
to usando um Note 9 pra testes, alterno o dia a dia com um Zenfone 5 e um S9+
sobre a questão da importação, eu sei que simplifiquei a questão demais. meu rant é contra o modelo de negócios mesmo (e me desculpe Icaro, mas assistência não oficial… não é oficial). Cansei de receber email de loja chinesa oferecendo aparelho de graça em troca de código de desconto.
Henrique, o exercício legal de um direito não é “brasileiro esperto-que-se-dá-bem-em-cima-dos-outros”. Se dar bem, é burlar as leis.
Ao que me consta, todos os produtos importados são alvo de inspeção da receita federal que cobra o imposto equivalente.
“você não sabe quando ele vai chegar à sua casa” – Se vc utiliza os Correios em compra online, também não.
“não tem garantia” Só usei assistência técnica uma vez na vida e garanto que a experiência foi péssima.
“não tem assistência técnica” A assistência dos fabricantes proclamados como nacionais está longe de atender o Brasil todo.
“e, se quebrar, você está sozinho” Concordo, pelo menos ao comprar no Brasil, vc pode chorar com os demais consumidores enganados com seu aparelho quebrado na mão.