O Mate Xs é mais um produto que sofre as consequências do banimento dos EUA: tem Android, mas não tem acesso aos serviços do Google.
Parece um smartphone incrível, como o Mate 30 Pro, mas no mundo ocidental dos smartphones (para a Huawei, Europa e América Latina), a marca precisará de muita boa vontade do consumidor para entender que o produto não tem Gmail, Maps, Pay, Drive, Photos e acesso a inúmeras APIs e serviços fundamentais (e muitas vezes invisíveis ao dono do aparelho).
Exemplo simples: supondo que o Mate Xs seja vendido no Brasil (já que “lançamento global” pode incluir nosso mercado e a Huawei promete novos telefones para cá em 2020).
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Usar o WhatsApp no Mate Xs (ou qualquer outro aparelho com Huawei Mobile Services) significa perder todas suas mensagens, já que o Mate Xs não terá integração com Google Drive – e mesmo instalar os Google Mobile Services via gambiarra também não fará funcionar o backup, porque o sistema operacional não tem acesso à API do Google Drive (e o backup do WhatsApp é inacessível ao usuário no Drive, por questões de segurança).
Depois que publiquei esse texto, li o tweet abaixo do David Ruddock (editor do Android Police), que segue na linha do que estou dizendo acima – a thread diz que não faz sentido vender aparelhos sem o “backbone” do Google no ocidente, e um analista de mercado complementa que a estratégia da Huawei de atrair desenvolvedores é mais voltada a levar apps ocidentais para o enorme mercado chinês que o contrário.
É complicado demais, ainda mais pensando em um aparelho que começa a ser vendido na Europa pelo preço sugerido de 2.499 euros na configuração com 8 GB de RAM e 512 GB de armazenamento interno. Não estou sendo pessimista aqui – apenas apontando para uma realidade que a Huawei teima em fingir não ver no mercado ocidental.
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Huawei Mate Xs
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O design do Mate Xs segue o do Mate X original: uma grande tela OLED externa que se desdobra para fora (ao contrário do Samsung Galaxy Fold, com a tela grande dentro da dobra). Fechado, são duas telas – 6,6″ e 6,38″. Aberto, um grande painel de 8 polegadas (2480 x 2200 pixels). Não tem conector de fones de ouvido – apenas USB-C para recarga e saída de áudio.
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A capacidade da bateria é de 4.500 mAH (duas de 2.250 mAH) com carregador rápido de 55W. As configurações incluem ainda um processador Huawei Kirin 990 5G (octa-core) com GPU Mali G76 de 16 núcleos e NPU (unidade de processamento neural) Dual Big Core + Tiny Core.
A câmera quádrupla usa tecnologia Leica – uma principal de 40 megapixels (f/1.8, sensor RYYB), um zoom de 8 megapixels, uma grande angular de 16 megapixels e um sensor Time of Flight para profundidade, além dos truques ótimos em fotografia da Huawei (macro, fotos noturnas, zoom digital etc.). Especificações completas aqui.
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A apresentação no não-MWC
Richard Yu, CEO da unidade de consumo da Huawei, fez questão de ressaltar que, apesar do banimento dos EUA, a marca segue como segunda maior em smartphones no mundo e crescendo. Vale notar que, mesmo com o Mobile World Congress Barcelona cancelado por conta do coronavírus, a Huawei seguiu com sua apresentação no Italian Pavillion do centro de exposições (onde faz seu keynote todo ano).
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E que os Huawei App Gallery (em resumo, a lojinha de apps da Huawei) segue com números enormes – presença em mais de 170 países, 400 milhões de usuários ativos mensais.
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Yu anunciou também um novo SDK para o Huawei Mobile Services, com melhorias em integração com câmera, quick apps (que não precisam de instalação), IA, entre outros.
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E que a Huawei segue com seu programa de incentivo para atrair desenvolvedores para a plataforma.
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Outros produtos… e o P40 chega em março
Além do Mate Xs, a Huawei apresentou hoje em Barcelona um tablet Android (MatePad Pro 5G), novos notebooks (MateBook X Pro e MateBook D) e roteadores Wi-Fi 6+ e 5G.
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E deixou dois recados bem diretos no final:
- 26/03 em Paris, lançamento da série P40, o smartphone premium da marca (o P30 Pro foi praticamente o filho único da Huawei no Brasil em 2019, e é excelente).
- “nos últimos 10, 20 anos trouxemos muito valor a empresas americanas”, disse o CEO Richard Yu. Recado enviado, mr. Yu.