Amazon re:MARS | Astro, o robô | Futuro da Alexa

Bom dia! Edição um pouco diferente da Interfaces – Henrique foi acompanhar o evento futurista da Amazon/AWS em Vegas e traz um relato exclusivo.

No fim, um resuminho rápido das principais notícias da semana. Boa leitura e até semana que vem.

DESTAQUE DA SEMANA

TRÊS DIAS EM UM FUTURO PLAUSÍVEL

Vim para o Amazon re:MARS, em Las Vegas. Esperava um evento cheio de aleatoriedades le1gais, como o SXSW, mas estava errado.

O SXSW tem seu mérito, mas falta uma coisa muito importante nele: não adianta tentar prever o futuro quando mostra coisas que não chegam a existir de verdade. 

No re:MARS (MARS vindo das iniciais de aprendizado de máquina/automação/robótica e espaço, em inglês), a ideia é que são futurismos reais – coisas que estão acontecendo agora (ou vão acontecer em um futuro muito próximo), estejamos prontos ou não.

Muita coisa pode parecer distópica, distante ou o sonho capitalista indo longe demais, mas é o que está acontecendo – tem grana rolando em tudo isso e muita coisa vai se tornar realidade. Fico com a pergunta na cabeça: IA, robôs, automação acabam com empregos ou liberam os humanos para se reinventar com outras coisas? O SXSW é para o hype, o re:MARS é para o mundo real. Ouso em dizer que o termo “metaverso” não foi citado nenhuma vez. 

Exemplos de coisas que já estão acontecendo na iniciativa privada:

Miso Robotics, que fabrica robôs para comandar estação de fritura em restaurante de fast food – e está se dando muito bem em uma era da grande resignação (quem quer fritar frango, afinal?). Chris Kruger, CEO, diz que sua função é reinventar as cozinhas. 

D-Orbit, que vai fornecer infraestrutura logística no espaço. Sim, enviar satélites em massa, colocá-los em órbita, corrigir a órbita de satélites com problema e tirar de operação satélites sem função – e evitando criar lixo espacial. E isso ainda leva a uma arquitetura de computação em nuvem (e conectividade) para o espaço sideral até Marte. 

Lunar Outpost, que vai enviar ainda em 2022 uma missão com um veículo exploratório para a Lua e fornecer serviços para quem quiser (e puder contratar). A segunda missão, de 2024, vai investigar anomalias magnéticas na Lua também. A frase “usar o espaço como um serviço” pareceu chocante, mas é o que vem por aí.  

Zoox, de carros autônomos elétricos, que reinventou o design de veículos porque entendeu que não adianta adaptar o modelo antigo – com o motorzão na frente – para um futuro mais seguro. Já tem carros em teste em San Francisco. 

Synchron, que desenvolveu uma tecnologia de stent similar ao usado em procedimentos cardíacos (para isolar as veias) para ativar partes do cérebro sem precisar furar o crânio – e fazer pacientes com paralisias conseguirem se comunicar. 

Gravity, que produz – e voa com segurança – jetpacks. Agora não dá mais para fazer a piadinha “cheguei no futuro, cadê meu jetpack?”. Mas não é para sair voando por cidades: tem aplicações militares (como resgate em alto-mar) e civis (com mais agilidade em desastres naturais para chegar auxílio médico). 

Uma dos temas em comum no re:MARS e que foi repetido à exaustão: simulação – usar modelos criados com inteligência artificial e aprendizado de máquina para simular coisas, ambientes, situações – de caixas em um depósito (algo usado para desenvolver os robôs industriais que cuidam dos depósitos da Amazon, por exemplo) a situações de trânsito somadas a condições climáticas, no caso do carro da Zoox.

Tanto que a AWS anunciou novos produtos relacionados ao tema, como o SageMaker GroundTruth, que gera dados sintéticos (criados seguindo regras simples, modelos estatísticos, simulações e outras fontes) para treinar sua IA. 

Em resumo, simular – usando modelos sintéticos (é um conceito bem abstrato da AWS, confesso) – serve para as empresas e desenvolvedores testarem coisas que elas não têm tempo ou capacidade de testar no mundo real. Velha máxima: não vivemos em uma simulação (será?), mas elas ajudam a experimentar coisas para melhorar o mundo.

UM TEMPINHO COM ASTRO

Astro é o primeiro robô doméstico da Amazon, anunciado ano passado e à disponível apenas para poucos – só é vendido nos EUA, sem nenhuma previsão de lançamento em outros mercados, incluindo o Brasil.

Custa US$ 999 e é uma Alexa sobre rodas, com funções já conhecidas da assistente virtual, e outras novas, como ir atrás de você para fazer companhia.

Em uma conversa com Ken Washington, vice-presidente de engenharia de software da Amazon – ou “pai do Astro”, deu para entender alguns dos desafios em criar e vender um robô doméstico.

A primeira grande descoberta é que pensar e criar um produto significa que os consumidores vão sempre encontrar usos novos para o robô – companhia pessoal e monitoramento/segurança eram algo esperado, mas foram surpreendidos pelo fato de que Astro é utilizado para cuidar (e checar o estado) de idosos.

Washington citou o caso que um filho monitorava o pai usando Astro e um dia ele não respondeu à chamada de vídeo. Mandou Astro verificar e o pai estava caído – e assim conseguiu ajuda a tempo para evitar maiores problemas.

Algo muito legal no papo sobre o Astro é que a Amazon mostra ter muito interesse em dispositivos domésticos – e que o pequeno Astro, que consegue carregar coisas de um lado para outro dentro de casa em seu cesto, é só o primeiro passo. Mas não espere que próximas gerações do Astro subam ou desçam escadas: isso ainda é caro demais para conseguir um preço decente em escala de produção.

ALEXA E A VOZ DA VOVÓ

No segundo dia de re:MARS, a apresentação de Rohit Prasad, vice-presidente e cientista-chefe para IA da Alexa, trouxe algo surpreendente e polêmico: em algum momento (sem prazo informado ou previsto, vale ressaltar), Alexa poderá ouvir uma voz qualquer e ler textos com uma espécie de deepfake de áudio.

O exemplo dado por Prasad foi de “pedir para a vovó ler o Mágico de Oz” para os netinhos. A ideia me causou um misto de emoção (ter vozes importantes gravadas para sempre) e esquisitice – uma vibe meio O Sexto Sentido, em que Alexa fala a voz de gente que não está mais por aqui. Talvez o exemplo utilizado tenha sido infeliz mesmo – um parente morando em outro estado ou país seria menos esquisito.

O QUE ESPERAR DA ALEXA?

Bati um papo também com Prem Natarajan, vice-presidente de IA para Alexa. Ele aprofundou um pouco o tema da voz falsa e deu algumas ideias do que podemos esperar no futuro da assistente virtual e comentou sobre ideia doida do engenheiro de IA do Google que disse que o chatbot LaMDA agora é consciente (spoiler: não é).

SOBRE A VOVÓ VIRTUAL: Eu cresci na Índia. Meus pais estão na Índia. Seus netos estão em Los Angeles. São 12, às vezes 13h de diferença, difícil de sincronizar no mesmo horário. Então, mesmo sem a presença física, eles podem desfrutar da companhia de seus avós. Esse é o pensamento, mas ainda é uma coisa exploratória. No sentido de que temos que trabalhar em todos os processos, como o que significa lançar muito empolgado com isso e pode funcionar em outros idiomas além do inglês. 

SOBRE UMA IA CONSCIENTE: Existe um risco em ter uma IA inteligente? Sim, um medo. Mas muitas vezes a frase está na mente de quem diz a coisa. Outro dia falei para minha filha mais nova perguntar para a Alexa quem era o melhor pai do mundo. E a Alexa disse que Prem era o melhor pai do mundo. Ela ficou “uau, a Alexa sabe que você é o melhor pai do mundo”. Mas minha filha não sabe que existem os Blueprints para a Alexa (nota: são skills fáceis de programar por qualquer um). Mas eu fui e programei minha voz como usuário, mas não contei isso para ela, que ficou encantada ao achar que a Alexa realmente sabe sobre sua família. É tudo sobre nossa impressão de que temos plena consciência. Mas quais são as inferências? Se você precisa explicar o processo de inferência para essas coisas complexas porque, assim, o consumidor entende que confia em sua resposta, certo? Então, acho que se você for capaz de explicar por que certas previsões são feitas ou certas inferências foram feitas, acho que ganhará mais confiança e as pessoas poderão formar uma boa opinião.

SOBRE ALEXA DAQUI A 5 OU 10 ANOS: A visão de inteligência ambiental que temos é, na minha opinião, muito duradoura porque reúne três tendências tecnológicas que vão continuar a  acelerar. Uma é a proliferação de dispositivos: estou usando um smartwatch, tenho termostatos inteligentes. A segunda é a rede. Que todas essas coisas estão conectadas, certo? O que estava faltando era a inteligência. Como dar sentido a todos esses dados? Para entregar a conveniência diária aos usuários de forma contínua e, então, aprender mais à medida que está operando. Assim, a visão de inteligência reúne tudo isso para que isso esteja lá para atendê-lo quando você precisar. Falamos muito sobre antecipar suas necessidades, mas também desaparecer em segundo plano quando não for necessário. Tipo, talvez (a Alexa) se torne um quadro ou talvez a TV.  Então, no futuro?

Eu penso em tudo isso se unindo mais em um mundo multimodal onde há interação por voz, ou interação multimodal, mas também as coisas que estão sendo feitas. Por exemplo: um problema pessoal é ter que ir buscar alguém, mas estou jogando algo e perco o contexto da hora.   Seria ótimo se eu tivesse essa inteligência ambiental que soubesse que preciso sair às 16h. Agora são 15h40.

Eu olho para o tempo que leva para viajar da sua casa até o local da coleta, que 17 minutos é melhor você estar pronto em três minutos. E assim me lembra e eu vou esquecer de novo. Mas talvez minha porta tenha uma fechadura inteligente e a garagem não abriu. E aí ela vai me lembrar de novo, “cara, você precisa sair agora, tá bom?” Então, para mim, todo o futuro é sobre onde a IA está e vai oferecer cada vez mais conveniência no dia a dia.

AU AU

Vi de perto o temido cão-robô da Boston Dynamics, chamado Spot. É um dobermann metálico e tem tanta ventoinha em cima que seu ruído é mais estranho que sua aparência. Mas não morde… (ainda)

ALEATÓRIO

Um dos temas do evento foram os robôs industriais da própria Amazon. Mas o mais curioso foi saber – e faz muito sentido – que os produtos nos centros de distribuição não ficam organizados por categoria, como ocorre em um supermercado. Aqui, o aleatório é rei: tudo para deixar menos propenso a erros ou trocas (e para o robô não importa, correto?)

RESUMO DA SEMANA

4K NA CABEÇA

Meta, quer dizer, Facebook, quer dizer, Mark Zuckerberg, deram uma prévia do que vem por aí em hardware para realidade virtual. A ideia é ter produtos que criem imagens ultra-realistas.

PARA QUE ISSO?

Falando em metaverso e VR, a HTC (alguém lembra?) vai lançar um smartphone para o metaverso, seja o que isso signifique além de um truque de marketing.

SÓ O HYPE MESMO

O Phone 1, da Nothing, surfa a divulgação entre influenciadores e jornalistas nos EUA – mas o smartphone será vendido apenas na Europa em um primeiro momento.

VAZAMENTO

O que dizer de uma banheira conectada que vaza dados dos seus usuários? É levar a exposição pessoal além do imaginável.

VEM AÍ (PARTE 2)

Depois da Europa pedir a existência de um iPhone com conector USB-C, até os EUA entraram na onda e vão querer padronizar os conectores.

TEXTÃO

Recursos que ninguém pediu, mas o Twitter inventa: Notes, ou como escrever posts de blogs em 2022.

MUNDO DO TRABALHO

O passaralho segue sobrevoando as startups e unicórnios – agora foi a vez do Ebanx, que fechou a unidade de conteúdo Labs News (uma fonte que sempre citávamos) e demitiu um monte de gente.

A movimentação está tamanha que fizeram uma página só para acompanhar demissões e divulgar o contato daqueles que estão disponíveis no mercado (recrutadores estão tratando como um veio de oportunidades para bater a meta, afinal – tem gente demitindo e tem gente que segue contratando).

PRÊMIO SEM NOÇÃO DA SEMANA

Você pensa “nossa, deve ser muito bom trabalhar em uma empresa suíça, eles devem ser educados”. Aí a liderança (humpf) manda a turma… andar em carvão quente.

SOLTEIRÃO

Sergey Brin, do Google, se separou. De novo.

ACHADOS AMAZON DA SEMANA

• Turma Da Mônica – Livro 400 atividades e desenhos para colorir
• Ratchet & Clank – PlayStation 4
• Short Liso Tactel Masculino Várias cores e tamanhos por R$ 19,90
• Ralador Inox Giratório Manual Multiuso 
• Livro Algoritmos da Opressão

IINTERFACES circula por e-mail toda sexta-feira de manhã 

Para assinar, clique aqui.